Monday, October 30, 2006

Faz-me rir, Edith Veiga!

A "Folha de S. Paulo", periódico que se impõe como "um jornal a serviço do Brasil", outorgou ao seu suplemento "cultural" de domingo, 29 de outubro de 2006, "+mais!", o seguinte título: "O embate decisivo". A chamada da capa dizia se tratar de um convite feito pelo jornal a seis especialistas, com a finalidade de discutirem "questões controversas da sociedade contemporânea", como Brasil versus Índia, estatal versus privado, orgânico versus transgênico e Chico versus Caetano.
Hein?! Chico contra Caetano? Caetano contra Chico? Pode-se dar a esse suposto embate a qualidade de uma das "questões controversas da sociedade contemporânea"? Será que o eminente editor do caderno (informação não encontrada no expediente do jornal) prefere Marlene ou Emilinha?
Subscreve o plácido texto "Rios profundos" o maestro e crítico musical Júlio Medaglia, autor de "Música Impopular" (ed. Global), título sintético que sugere muito do que pensa o ora articulista sobre a arte musical. Ou seja: "Credo em cruz, ave maria! Música popular? Isso é tema acadêmico", donde se conclui que o "former-Tropicalia member", também ex-integrante do movimento "Música Nova" (!) só pode considerar que "recuperar a criatividade popular espontânea (...) parece impossível", tendo em conta o caráter excelso - e contemporâneo - atribuído aos personagens-mote do texto magistral.

(Os trechos mais estonteantes vão em negrito, e alguns comentários, em itálico.)

Chico X Caetano
Rios profundos
JÚLIO MEDAGLIA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dada a diversidade, criatividade, importância social e cultural da música popular brasileira, ela sempre esteve, de variadas maneiras, envolvida com movimentações de natureza política. Num claro contraponto ao seu radicalismo político nacionalista, populista e trabalhista, Getúlio Vargas, por exemplo, ao implantar o Estado Novo nos anos 1930, não hesitou um segundo em cooptar grande parte da intelectualidade da época, oferecendo-lhe confortáveis cargos públicos.
Criou, sem pudores, verdadeiros "pelegos" culturais semelhantes aos sindicais que havia criado e deu maciço apoio técnico e financeiro à Rádio Nacional, espécie de praça da alegria do regime, cujo alarido festivo encobria os murmúrios de algumas poucas vozes discordantes, [Quais eram elas? O Carlos Prestes ou o Carlos Lacerda?] devidamente abafadas pelos censores do Departamento de Imprensa e Propaganda ou pelos cassetetes de sua "SS" particular, comandada por Felinto Müller.
A geração de músicos que nasceu no final dos anos 50 e no delírio dos 60, ainda em atividade, teve uma postura diametralmente oposta, aliás, sem exceções. [Sem exceções?! Agnaldo Rayol e Wilma Bentivegna. O maestro já ouviu ao menos falar (nem se cogita que tenha escutado algum de seus discos) desses artistas?] Não só, com grande coragem, bateu de frente com os algozes da ditadura de 64 [sic] como criou uma música de qualidade, inspirada, arraigada em nossa cultura, a qual, mais por meio da linguagem que da língua, tirava o sono dos milicos.

Noel e eletronismos
Nascida nos sofisticados redutos da zona sul carioca, a bossa nova, por ser um movimento jovem [Viva o samba de uma nota só, maestro!], não tardou em desenvolver um viés político, muito adequado aos shows de universitários. Se uma linha mais "lírica" foi mantida, liderada pelo gênio maior do movimento, Tom Jobim, as correntes não se conflitavam. [Não?! A música de Nara Leão e a de Sergio Mendes, só pra citar os highlights, não se chocavam, maestro?]
E essa linha mais "pensante" e comprometida com nossa realidade da MPB desenvolveu-se ainda mais com a chegada do tropicalismo.
Ou seja, Chico e Caetano estavam do mesmo lado, [Ué... A rubrica do artigo não é Chico x Caetano? Chico Buarque era tropicalista?! Caetano era noelista?! Mais um viva! Agora para o revisionismo histórico.] ainda que suas músicas tivessem características diversas. Chico, por meio de uma coloquialidade a la [sic] Noel Rosa, por meio de uma fina poética, abordava destinos e fatos aparentemente suburbanos que, na verdade, traziam subtextos repletos de informações que aqueciam a atmosfera política do momento.
Caetano, no outro extremo, fazia uma música de pretensões universalistas, apoiada nos eletronismos de linguagens atuais assim como no repertório de vanguarda da música erudita. O talento de ambos, porém, fazia com que suas contribuições se espalhassem e confortassem corações e mentes ansiosas, [Mais um viva para a intelectuália do eixo Rio-São Paulo! É de se duvidar da penetração que teve a música de Caetano Veloso e Chico Buarque além da classe-média intelectualizada do Sudeste.] tornando inesquecíveis aqueles momentos de nossa cultura popular.
Os tempos mudaram, ambos aí estão, mas, desta vez, em caminhos opostos profissional e politicamente. Chico parece ter se desencantado com a criação musical após a liberação geral das possibilidades de expressão, interessando-se por outras formas de expressão. [Quais? A arquitetura? O futebol? A literatura? O teatro?]
Caetano, irrequieto, [realmente...] segue atuando sempre com novos projetos, a cada ano mantendo o pique da fase tropicalista. [O tropicalismo não foi dado como morto pelo próprio no final de 1968?]
Por sua presença no dia-a-dia da movimentação cultural e social do país, Caetano resolve adotar uma posição crítica ao atual governo, [Isso justifica as opiniões políticas de Caetano? Seria ele mais bem informado e cônscio do que nós todos?] envolvido em intrincadas teias. [Por que não dizer a palavrinha corrupção, maestro?] Chico, como num ato de nostalgia, resolve apoiar Lula, talvez o imaginando ainda a figura heróica dos tempos de chumbo, era em que o próprio Chico também fora vítima da repressão.
Numa terceira via, [Anthony Giddens que não leia essa comparação rasteira] porém, corre a atual música popular brasileira produzida pela indústria da comunicação eletrônica, destituída de talentos como os de Chico e Caetano.
Seja qual for o vencedor da eleição, dificilmente vamos ter momentos como aqueles representados por ambos. [Como é que é? O Presidente da República é capaz de doutrinar a cultura a ponto de sufocar a produção de novos artistas? Vivace, ma non troppo, maestro!] Despoluir um rio é fácil. [Essa frase explica o título do artigo?] Recuperar a criatividade popular espontânea que havia neste país parece impossível, seja qual for o novo salvador da pátria. [Bravo!]

JÚLIO MEDAGLIA é maestro e crítico musical, autor de "Música Impopular" (ed. Global).
CD - Caetano Veloso acaba de lançar "Cê" (Universal). Já Chico lançou "Carioca" (Biscoito Fino).

Capa do compacto extraída daqui.

10 Comments:

Blogger [brixbix] said...

Finalmente um artigo novo aqui!!! Amo o seu jeito irônico de comentar as coisas... amo a indignaçã!!!!

E quem disse que despoluir um rio é fácil?

O maestro além de ter se quebrado no artigo ainda dá uma de ambientalista.

Quando ao meu post, eu tô tão aérea e passada que nem sei que eu tô falando, eu posto lá... sem eira, nem beira.

Vc estimula meu lado rebelde, que perigo!!! Agitador!

Beijas.
Juju

8:38 AM  
Blogger Domingos Junior said...

Pois é. Eu comecei a ler o +mais! e os escritos do maestro e fiquei impaciente, irritado, nervoso e daí pra indignação foi um pulo. Fez por merecer essa homenagem gloriosa, além de ter sido o sumo responsável pelo cancelamento da minha assinatura da "Folha de S. Paulo". Me recuso a pagar anuidade pra receber aos domingos de manhã esse tipo de jornalismo cupincha, pra dizer o mínimo.

Sou totalmente a favor da blogaterapia! Descarrega tudo, depois você monta o quebra-cabeça.
Só não abusa nos vídeos de musgas, né? se não vai ter que pedir perdão por insistir no mesmo tema...
beijas mil,
nuno.

5:22 PM  
Anonymous Anonymous said...

Ele, pelo menos, ganhou uns trocados escrevendo issodaí. E você? Ganhou o quê lendo issodaí?

6:02 AM  
Blogger Domingos Junior said...

Boa questão, pracimademoá.
Eu não ganhei dinheiro algum. Me contento só com a contrargumentação mesmo (aqui ao menos eu não pago pra ler e muito menos pra escrever; também não ganho nenhum tostão, é verdade.) O pior de tudo é que eu paguei pra ler essas linhas, né?
Ah... Não importa. Foi-se. Serviu pra que eu não pague mais a partir de agora, além de não perder tempo lendo qualquer outra palavra escrita por esse senhor.

1:11 PM  
Anonymous Anonymous said...

1. Chico "versus" Caetano: C "versus" C. O primeiro lançou "Carioca", o segundo "Cê". Então, da soma das duas merdas, só poderiam arremessar "cecê".

2. Julio Medaglia - ou seria Merdaglia?
Coitadinho do maestro, a falha não é só dele: é da Folha (da filha) da puta. Ou seria da Tropicália?

3. "O que é que eu tô fazendo aqui nesse disco?".

4. Agora falando sério, com perdão pela citação de uma "canção" do véio Chico e uma honrosa menção ao Anysio, o LP "Baiano & Os Novos Caetanos", de onde veio o tópico anterior, é melhor do que a obra completa dos dois patetas.
E ainda insistem em dizer que (ainda) são poetas.

K.

4:04 PM  
Blogger Domingos Junior said...

Na realidade, k., eu só fiquei irritado com a escolha do tema. Na minha opinião, Chico versus Caetano não é uma "questão controversa da sociedade contemporânea", independentemente da qualidade de suas obras. E o artigo do maestro é totalmente equivocado, pelos motivos que destaquei.

4:43 AM  
Anonymous Anonymous said...

É, eu percebi. E minha réplica é também uma gozação com a letra "C".
Anteontem eu caí na besteira de dizer a um jornalista de um conhecido jornal de Salvador que o Buarque não tem mais o que dizer e que esse disco "Carioca" não tem graça nenhuma, ele ficou furioso e disse, com os olhos arregalados e postura caetitânica, que é uma das melhores coisas já feitas em todos os tempos no Brasil etc etc. Eu fiquei assustado. Será?

1:32 AM  
Blogger Domingos Junior said...

Sei não, hein?! Vamos aos discos então.
Eu gosto de Chico Buarque, mas não gostei de "Carioca" (fraco, fraco). A princípio, eu não gosto de Caetano Veloso, mas gostei de "Cê" (fresco, surpreendente).
Aliás, diz que o DVD do show do disco do Caetano vai se chamar "Cê-cê"...

7:46 AM  
Anonymous Anonymous said...

Então só ouvindo, ou vendo.

5:53 AM  
Anonymous Anonymous said...

Agora já ouvi os dois discos, muito ruins. A aposentadoria, para eles, faria um bem enorme a todos.
Flávio Cavalcanti teria uma certa dificuldade para quebrar essas bolachetas, mas acho que ele tentaria.

6:57 AM  

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