Na Zingu! 5 n°. 2
“Boite” e gravadora de discos, “Drink” foi a marca e o nome criados pelo violonista e empresário Djalma Ferreira, nos anos 1950, para, com seus “Milionários do ritmo” (conjunto de formação sempre sujeita a alterações, de que participaram o então contra-baixista e depois organista Ed Lincoln, o tecladista Celso Murilo, o violonista Waltel Branco, o cantor e pandeirista Miltinho, o percussionista Rubens Bassini e o cantor excepcional que Wilson Simonal se mostrou), ganhar muito dinheiro e circular mundo afora, em prol da divulgação da música brasileira.
À frente da banda, revezavam-se os “crooners” Pedrinho Rodrigues, Wilson Simonal e Miltinho e, como vozes femininas, Sandra e Lila.
Lila? “Lila de quê? De nada. Lila, simplesmente”, afirmava, com convicção, no texto da contracapa do primeiro disco da artista, “A madrugada na voz” (Columbia/1961), o compositor e também cantor Sílvio César, ou Sylvio Cezar, como foi grafado seu nome como autor de várias das faixas do álbum e do texto de introdução da cantora ao “amigo discófilo”.
O disco é sambalanço em estado bruto, com acompanhamento do conjunto do maestro, arranjador e trombonista Astor Silva, residente da gravadora Columbia. Samba de gafieira, samba de boate, samba de “teleco-teco”, sambolero... Os arranjos eram jazzísticos, com solos de guitarra, metais e um piano rítmico, bem percussivo. O coro formado pelas vozes dos músicos suingava com o restante do conjunto. Da mistura de todos esses sub-gêneros do samba, tidos como popularescos, surgiria o cultuado e refinado “samba-jazz”, ápice da originalidade à brasileira.
Ainda não vertidos para o “samba-jazz”, do primeiro disco de Lila, dois temas se tornaram clássicos do estilo: “Nunca mais”, de letra melancólica, mas com ritmo contagiante, um “lamento” na voz de Lila, e “Olhou pra mim”, com introdução explosiva, levada adiante pela guitarra, ambos compostos por Ed Lincoln e Sílvio César.
“Vai com deus”, de Luís Bandeira e Sílvio César é um autêntico sambolero. “Saudade intrusa”, de Vadico, parceiro de Noel Rosa, usa da tentativa de urbanização das favelas para tratar da decepção amorosa: “Apesar do seu desejo, não há ordem de despejo que me arranque daqui”.
No seu segundo disco, “Gosto da noite” (CBS/1963), Lila contou com acompanhamento do conjunto da casa, já acrescido de um balançante órgão, instrumento que tão bem se adaptou à sonoridade do LP, cujo repertório teve metade das faixas ocupada por composições de Sílvio César.
“É um estouro”, de Jayme Silva e Neuza Teixeira (os mesmos autores de “O pato”, que se transformou em “standard” na interpretação de João Gilberto) abre o disco, e Lila nos conta a história da mulata dançarina de boate, que deveria ser efetivamente “um estouro”.
A faixa-título, a única balada do álbum, de Newton Pereira e Ivan Paulo da Silva, o maestro Carioca, é chorosa, matéria-prima para a boêmia do início dos 1960: “Somente a noite é companheira, fiel à minha dor, somente a noite sabe onde está o meu amor”. Com suingue irrestível, “Conselho a quem quiser voltar” e “Pra quê?”, do quase onipresente Sílvio César, foram “música de fundo” de muitas reconciliações amorosas, apesar do ritmo cadenciado e da irreverência da letra desta última, na voz doce de Lila: “Pra que fazer comédia assim? Se eu gosto de você, e você gosta de mim”.
Lila gravou os dois discos e sumiu como gato preto na madrugada. É preciso então voltar à pergunta feita no início. Lila? “Lila de quê?” De quê, Sílvio César? “De nada” não é resposta que satisfaz a curiosidade do ouvinte diante da obra curta, mas impactante de Lila.
A madrugada na voz – Columbia/1961 – 37168
Gosto da noite – CBS/1963 - 37284
À frente da banda, revezavam-se os “crooners” Pedrinho Rodrigues, Wilson Simonal e Miltinho e, como vozes femininas, Sandra e Lila.
Lila? “Lila de quê? De nada. Lila, simplesmente”, afirmava, com convicção, no texto da contracapa do primeiro disco da artista, “A madrugada na voz” (Columbia/1961), o compositor e também cantor Sílvio César, ou Sylvio Cezar, como foi grafado seu nome como autor de várias das faixas do álbum e do texto de introdução da cantora ao “amigo discófilo”.
O disco é sambalanço em estado bruto, com acompanhamento do conjunto do maestro, arranjador e trombonista Astor Silva, residente da gravadora Columbia. Samba de gafieira, samba de boate, samba de “teleco-teco”, sambolero... Os arranjos eram jazzísticos, com solos de guitarra, metais e um piano rítmico, bem percussivo. O coro formado pelas vozes dos músicos suingava com o restante do conjunto. Da mistura de todos esses sub-gêneros do samba, tidos como popularescos, surgiria o cultuado e refinado “samba-jazz”, ápice da originalidade à brasileira.
Ainda não vertidos para o “samba-jazz”, do primeiro disco de Lila, dois temas se tornaram clássicos do estilo: “Nunca mais”, de letra melancólica, mas com ritmo contagiante, um “lamento” na voz de Lila, e “Olhou pra mim”, com introdução explosiva, levada adiante pela guitarra, ambos compostos por Ed Lincoln e Sílvio César.
“Vai com deus”, de Luís Bandeira e Sílvio César é um autêntico sambolero. “Saudade intrusa”, de Vadico, parceiro de Noel Rosa, usa da tentativa de urbanização das favelas para tratar da decepção amorosa: “Apesar do seu desejo, não há ordem de despejo que me arranque daqui”.
No seu segundo disco, “Gosto da noite” (CBS/1963), Lila contou com acompanhamento do conjunto da casa, já acrescido de um balançante órgão, instrumento que tão bem se adaptou à sonoridade do LP, cujo repertório teve metade das faixas ocupada por composições de Sílvio César.
“É um estouro”, de Jayme Silva e Neuza Teixeira (os mesmos autores de “O pato”, que se transformou em “standard” na interpretação de João Gilberto) abre o disco, e Lila nos conta a história da mulata dançarina de boate, que deveria ser efetivamente “um estouro”.
A faixa-título, a única balada do álbum, de Newton Pereira e Ivan Paulo da Silva, o maestro Carioca, é chorosa, matéria-prima para a boêmia do início dos 1960: “Somente a noite é companheira, fiel à minha dor, somente a noite sabe onde está o meu amor”. Com suingue irrestível, “Conselho a quem quiser voltar” e “Pra quê?”, do quase onipresente Sílvio César, foram “música de fundo” de muitas reconciliações amorosas, apesar do ritmo cadenciado e da irreverência da letra desta última, na voz doce de Lila: “Pra que fazer comédia assim? Se eu gosto de você, e você gosta de mim”.
Lila gravou os dois discos e sumiu como gato preto na madrugada. É preciso então voltar à pergunta feita no início. Lila? “Lila de quê?” De quê, Sílvio César? “De nada” não é resposta que satisfaz a curiosidade do ouvinte diante da obra curta, mas impactante de Lila.
A madrugada na voz – Columbia/1961 – 37168
Gosto da noite – CBS/1963 - 37284
Texto publicado na revista Zingu! n° 5
2 Comments:
Fiquei sabendo, logo após ter postado este disco da Lila em meu blog, que ela era irmã da Dalva de Oliveira. Você sabia?
People should read this.
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