Labels: café
Tuesday, November 02, 2010
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Tuesday, August 14, 2007
Na Zingu! 7 n°. 4
Tomando-se como critério a participação como cantor, podem ser atribuídos a Carlos Imperial dois discos, ambos de 1968: “Pilantrália com Carlos Imperial e a Turma da Pesada”, lançado pelo mítico selo Parlophone, ligado à Odeon brasileira (PBA-13.004) e “O Rei da Pilantragem – A Turma do Embalo interpreta Imperial”, RCA-Victor (BBL-1469).
Ao se mencionar os discos da pilantragem, é necessária uma advertência: os álbuns da Turma da Pilantragem, lançados pela Polydor (hoje pertencente ao acervo da Universal), não são ligados diretamente a Imperial. Foram produzidos por Nonato Buzar e arranjados por Antonio Adolfo, que reuniu músicos diversos daqueles dos discos de Imperial, como o baixista Sergio Barroso, o baterista Victor Manga, o guitarrista e violonista Durval Ferreira, o sax-tenor Juarez Araújo e o trombonista Raul de Souza, dentre outros luminares das décadas de 1960 e 70.
O título do primeiro álbum já indica: trata-se de uma gozação com a Tropicália, com direito a capa falsamente psicodélica, de autoria do artista plástico Joel Cochiararo. Seguindo à risca o lema do maio de 1968 francês – “É proibido proibir” – o repertório incluía sambas da velha-guarda, como “Atire a primeira pedra”, de Ataulfo Alves e Mário Lago, a marchinha “Cidade Maravilhosa”, de André Filho, a celebrativa “Parabéns pra você”, clássicos instantâneos da pilantragem (“Mamãe passou açúcar ‘ni’ mim”, “O bom” e “Nem vem que não tem”, todos de autoria imperialesca), hinos de clube de futebol: América, Botafogo, Fluminense e Flamengo, eternizados por Lamartine Babo, e até uma parceria com o colunista social Ibrahim Sued, “Laço de fita”.
O disco foi arranjado pelo maestro Pilantra Junior, ou seja, Orlando Silveira. Músico de estúdio da Odeon, lançou vários discos de choros, valsas e sambas-canções gravados principalmente durante a década de 1950. Os instrumentistas arregimentados por Silveira formavam um “dream team”. Vários dos músicos mais competentes da época participaram das sessões de gravação: Wagner Tiso (piano), Edson Machado (bateria), Luiz Marinho (baixo), Aurino Ferreira, Paulo Moura e Oberdan Magalhães (saxes), Maurílio, Darcy da Cruz e Eraldo Reis (pistons) e Ed Maciel, Zanata e Manoel Araújo (trombones). Tiso, Moura e o baterista Paschoal Meirelles ainda formariam, no final dos anos 60, o conjunto Os pilantocratas, que lançou pelo selo Equipe, de Oswaldo Cadaxo, o disco “Pilantocracia”.
O clima do disco era o de uma grande festa, com direito a barulho de gelo estalando no copo. Gente falando, coros de lá-lá-iás e palmas. Muita marcação com palmas. Derivadas dos discos de Chris Montez e do jazzístico trio de Ramsey Lewis, são características de quase tudo aquilo que pode ser associado à Pilantragem: a esfuziante mistura de samba, rock, soul, “boogaloo”, “sunshine pop”... E o que mais passasse pelo crivo dúbio do pilantra-mor Carlos Imperial.
“O Rei da Pilantragem – A Turma do Embalo interpreta Imperial” pode ser considerado uma continuação do disco anterior, inclusive quanto à presença das características enumeradas acima. O repertório repetia algumas faixas, como “Nem vem que não tem”, “Mamãe passou açúcar ‘ni’ mim”, “O bom”, “Bye-bye” (em parceria com Jorge Roberto), “O carango” (com Nonato Buzar) e “O adeus”, mas apresentava o samba eternizado por Clara Nunes, “Você passa e eu acho graça”, cujo co-autor de Imperial era ninguém menos que Ataulfo Alves, e um dos grandes sucessos de Erasmo Carlos, “Vem quente que eu estou fervendo”, parceria do “Gordo” com “o bom” Eduardo Araújo.
Ao se mencionar os discos da pilantragem, é necessária uma advertência: os álbuns da Turma da Pilantragem, lançados pela Polydor (hoje pertencente ao acervo da Universal), não são ligados diretamente a Imperial. Foram produzidos por Nonato Buzar e arranjados por Antonio Adolfo, que reuniu músicos diversos daqueles dos discos de Imperial, como o baixista Sergio Barroso, o baterista Victor Manga, o guitarrista e violonista Durval Ferreira, o sax-tenor Juarez Araújo e o trombonista Raul de Souza, dentre outros luminares das décadas de 1960 e 70.
O título do primeiro álbum já indica: trata-se de uma gozação com a Tropicália, com direito a capa falsamente psicodélica, de autoria do artista plástico Joel Cochiararo. Seguindo à risca o lema do maio de 1968 francês – “É proibido proibir” – o repertório incluía sambas da velha-guarda, como “Atire a primeira pedra”, de Ataulfo Alves e Mário Lago, a marchinha “Cidade Maravilhosa”, de André Filho, a celebrativa “Parabéns pra você”, clássicos instantâneos da pilantragem (“Mamãe passou açúcar ‘ni’ mim”, “O bom” e “Nem vem que não tem”, todos de autoria imperialesca), hinos de clube de futebol: América, Botafogo, Fluminense e Flamengo, eternizados por Lamartine Babo, e até uma parceria com o colunista social Ibrahim Sued, “Laço de fita”.
O disco foi arranjado pelo maestro Pilantra Junior, ou seja, Orlando Silveira. Músico de estúdio da Odeon, lançou vários discos de choros, valsas e sambas-canções gravados principalmente durante a década de 1950. Os instrumentistas arregimentados por Silveira formavam um “dream team”. Vários dos músicos mais competentes da época participaram das sessões de gravação: Wagner Tiso (piano), Edson Machado (bateria), Luiz Marinho (baixo), Aurino Ferreira, Paulo Moura e Oberdan Magalhães (saxes), Maurílio, Darcy da Cruz e Eraldo Reis (pistons) e Ed Maciel, Zanata e Manoel Araújo (trombones). Tiso, Moura e o baterista Paschoal Meirelles ainda formariam, no final dos anos 60, o conjunto Os pilantocratas, que lançou pelo selo Equipe, de Oswaldo Cadaxo, o disco “Pilantocracia”.
O clima do disco era o de uma grande festa, com direito a barulho de gelo estalando no copo. Gente falando, coros de lá-lá-iás e palmas. Muita marcação com palmas. Derivadas dos discos de Chris Montez e do jazzístico trio de Ramsey Lewis, são características de quase tudo aquilo que pode ser associado à Pilantragem: a esfuziante mistura de samba, rock, soul, “boogaloo”, “sunshine pop”... E o que mais passasse pelo crivo dúbio do pilantra-mor Carlos Imperial.
“O Rei da Pilantragem – A Turma do Embalo interpreta Imperial” pode ser considerado uma continuação do disco anterior, inclusive quanto à presença das características enumeradas acima. O repertório repetia algumas faixas, como “Nem vem que não tem”, “Mamãe passou açúcar ‘ni’ mim”, “O bom”, “Bye-bye” (em parceria com Jorge Roberto), “O carango” (com Nonato Buzar) e “O adeus”, mas apresentava o samba eternizado por Clara Nunes, “Você passa e eu acho graça”, cujo co-autor de Imperial era ninguém menos que Ataulfo Alves, e um dos grandes sucessos de Erasmo Carlos, “Vem quente que eu estou fervendo”, parceria do “Gordo” com “o bom” Eduardo Araújo.
Labels: 1968, Carlos Imperial, Parlophone, RCA, Zingu
Monday, June 25, 2007
"Enchanté, muito merci, allright!" (cont.)
Veja aqui.
Aracy, em pessoa, conta aos 8min43seg como conheceu Noel Rosa e canta "Três apitos" à beira da janela:
Veja aqui.
Labels: "Três apitos", Aracy de Almeida, Arquivo N, GloboNews, Noel Rosa
Monday, June 18, 2007
Thursday, June 14, 2007
Na Zingu! 6 n°. 3
Por ser a Zingu! uma “revista mensal de internet dedicada ao cinema, especialmente o paulista”, esta seção musical tenta, a partir deste número, trazer à tona cantoras que também incursionaram pela Sétima arte.
Depois da guinada cult a que foi acometida a cantora Diana, graças à inclusão de “Tudo que eu tenho” (na verdade, “Everything I own”, de David Gates, vertida pelo “papa” das versões Rossini Pinto) na trilha sonora do filme “O céu de Suely” (2006), de Karim Aïnouz, é chegada a hora e a vez de Nalva Aguiar, outra “cafona” confeccionada nos anos 1970.
Nalva Aguiar, “uma loira simpática e de aparência agradável”, de acordo com a opinião do crítico paranaense Aramis Millarch, também atuou, ao longo de sua carreira artística, em alguns filmes, segundo informações do site imdb.com: "Adorável trapalhão" (1967), de J. B. Tanko, "2000 anos de confusão" (1969), de Fauzi Mansur, "O Conto do vigário" (1976), de Kleber Afonso, o musical “Sinfonia sertaneja” (1979), de Black Cavalcanti (?!), em que contracenou com outros dois cantores-atores, Marcelo Costa e Hugo Santana, e em "Sexo e violência no vale do inferno" (1981), de Domingos Antunes, com a dupla Duduca e Dalvan.
Eis que, entre um e outro personagem cinematográfico, Nalva Aguiar gravou em 1974, pelo selo Epic, da CBS, um disco complexo, mas indeciso; um disco de transição na carreira, que poderia ser considerado como “etapa do processo de amadurecimento artístico da cantora”, caso não tivesse sido solenemente ignorado à época.
A idéia embutida em “Nalva Aguiar” era tornar a intérprete uma espécie de Dusty Springfield dos trópicos. A foto da capa, de Armando Canuto, mostra a cantora com um vestido country-folk branco, num momento apoteótico de algum show, com dois spotlights em sua direção.
A sonoridade do disco, produzido pelo hitmaker Mauro Motta, emulava aquela do final dos anos 1690 e início dos 1970 da cantora inglesa, fase em que se firmou como soulwoman, mergulhando profundamente no chamado Memphis sound. Porém, o que torna “Nalva Aguiar” uma obra que caminha além da mera cópia de outra estrangeira é a sua profusão de ritmos. Tomando-se o álbum de 1974 como um LP transitório e – experimental -, calcado no soul, o disco era uma amálgama especialíssima de vocais sertanejos, chorosos, do forró e do xote estilizados de Dominguinhos e Anastácia, de música country norte-americana, de brega brasileiro (por que não?), de ecos dos roquinhos e das baladas derivados da Jovem Guarda, e de linhas de baixo que mais pareciam terem sido tiradas dos primeiros discos de Tim Maia.
A mistura, que aparentemente carecia de critério, e a aura cafona que envolvia Nalva Aguiar talvez expliquem a irrelevância atribuída ao disco quando do seu lançamento.
A primeira faixa, “Ausência”, de Mauro Motta e F. Campana, escolhida o lado B do compacto simples oriundo do álbum, e “Eu gosto tanto de você”, de Anastácia, são baladas açucaradas, muito bem conduzidas pela voz doce de Nalva.
“Vou levar você comigo”, de Wilson Tavares, é jovem-guardista, no esquema guitarra-base e guitarra-solo. O forró dançante “Taí o que você fez”, parceria de Dominguinhos e Anastácia, traz todo o jargão do gênero: “esse negócio da gente gostar de uma criatura que não sabe amar”.
“Nossa vida está às moscas”, o lado A do compacto lançado, composta pelos irmãos Milton Carlos e Isolda, fornecedores de peças do repertório de Roberto Carlos, como “Um jeito estúpido de te amar”, é mais uma belíssima balada soul do disco. Com baixo bem marcado e elaborado naipe de metais, o mote era a emancipação feminina, em tempos do já então ultrapassado desquite: “Não se assuste se eu lhe disser que eu vou embora, eu não posso saber. A nossa vida está às moscas por causa de você.”
Rossini Pinto é o responsável pela competente versão de “Doctor’s orders”, de Roger Cook, Roger Greenway e Geoff Stephens, sucesso pré-discothèque de Carol Douglas. “Eu te quero tanto” ganhou ainda um trecho declamado por Nalva: “Meu amor, se deus quisesse um dia devolver meu passado, eu voltaria a viver, eu voltaria a sorrir.”
“Solidão”, de Luiz Fabiano, é a balada sofredora - e derradeira - do disco, cuja aflição aumenta no decorrer da canção, de versos pouco inspirados como “a solidão mora comigo, já fez abrigo no meu coração”.
A partir do disco de 1974, a mineira de Tupaciguara (nome também do seu disco de 1978), que começou sua carreira discográfica gravando compactos na gravadora Chantecler, acompanhada do conjunto The Jet Blacks, passa a ser essencialmente uma cantora de música sertaneja ou, em outras palavras, country music abrasileirada. A consolidação de Nalva Aguiar neste gênero musical, garantiu seus principais sucessos, como “Dia de formatura” (Moacyr Franco) e “Tá de mal comigo” (Nhô Pai), a gravação de um LP em duo com o cantor gaúcho Teixeirinha, “Guerra dos desafios” (Chantecler/1984) e lhe conferiu vários títulos, como Rainha do peão de boiadeiro de Barretos e Queen of country music in Brazil, láurea que só poderia ter mesmo origem na capital internacional do country, Nashville (EUA).
Não resta dúvida, entretanto, que a peça mais consistente – e original – da obra de Nalva Aguiar seja seu disco gravado em 1974, por toda ousadia e experimentalismo artístico alcançados em uma gravadora major, sem igual naquele momento.
Texto publicado originalmente na revista Zingu! n°. 6
Nalva Aguiar, “uma loira simpática e de aparência agradável”, de acordo com a opinião do crítico paranaense Aramis Millarch, também atuou, ao longo de sua carreira artística, em alguns filmes, segundo informações do site imdb.com: "Adorável trapalhão" (1967), de J. B. Tanko, "2000 anos de confusão" (1969), de Fauzi Mansur, "O Conto do vigário" (1976), de Kleber Afonso, o musical “Sinfonia sertaneja” (1979), de Black Cavalcanti (?!), em que contracenou com outros dois cantores-atores, Marcelo Costa e Hugo Santana, e em "Sexo e violência no vale do inferno" (1981), de Domingos Antunes, com a dupla Duduca e Dalvan.
Eis que, entre um e outro personagem cinematográfico, Nalva Aguiar gravou em 1974, pelo selo Epic, da CBS, um disco complexo, mas indeciso; um disco de transição na carreira, que poderia ser considerado como “etapa do processo de amadurecimento artístico da cantora”, caso não tivesse sido solenemente ignorado à época.
A idéia embutida em “Nalva Aguiar” era tornar a intérprete uma espécie de Dusty Springfield dos trópicos. A foto da capa, de Armando Canuto, mostra a cantora com um vestido country-folk branco, num momento apoteótico de algum show, com dois spotlights em sua direção.
A sonoridade do disco, produzido pelo hitmaker Mauro Motta, emulava aquela do final dos anos 1690 e início dos 1970 da cantora inglesa, fase em que se firmou como soulwoman, mergulhando profundamente no chamado Memphis sound. Porém, o que torna “Nalva Aguiar” uma obra que caminha além da mera cópia de outra estrangeira é a sua profusão de ritmos. Tomando-se o álbum de 1974 como um LP transitório e – experimental -, calcado no soul, o disco era uma amálgama especialíssima de vocais sertanejos, chorosos, do forró e do xote estilizados de Dominguinhos e Anastácia, de música country norte-americana, de brega brasileiro (por que não?), de ecos dos roquinhos e das baladas derivados da Jovem Guarda, e de linhas de baixo que mais pareciam terem sido tiradas dos primeiros discos de Tim Maia.
A mistura, que aparentemente carecia de critério, e a aura cafona que envolvia Nalva Aguiar talvez expliquem a irrelevância atribuída ao disco quando do seu lançamento.
A primeira faixa, “Ausência”, de Mauro Motta e F. Campana, escolhida o lado B do compacto simples oriundo do álbum, e “Eu gosto tanto de você”, de Anastácia, são baladas açucaradas, muito bem conduzidas pela voz doce de Nalva.
“Vou levar você comigo”, de Wilson Tavares, é jovem-guardista, no esquema guitarra-base e guitarra-solo. O forró dançante “Taí o que você fez”, parceria de Dominguinhos e Anastácia, traz todo o jargão do gênero: “esse negócio da gente gostar de uma criatura que não sabe amar”.
“Nossa vida está às moscas”, o lado A do compacto lançado, composta pelos irmãos Milton Carlos e Isolda, fornecedores de peças do repertório de Roberto Carlos, como “Um jeito estúpido de te amar”, é mais uma belíssima balada soul do disco. Com baixo bem marcado e elaborado naipe de metais, o mote era a emancipação feminina, em tempos do já então ultrapassado desquite: “Não se assuste se eu lhe disser que eu vou embora, eu não posso saber. A nossa vida está às moscas por causa de você.”
Rossini Pinto é o responsável pela competente versão de “Doctor’s orders”, de Roger Cook, Roger Greenway e Geoff Stephens, sucesso pré-discothèque de Carol Douglas. “Eu te quero tanto” ganhou ainda um trecho declamado por Nalva: “Meu amor, se deus quisesse um dia devolver meu passado, eu voltaria a viver, eu voltaria a sorrir.”
“Solidão”, de Luiz Fabiano, é a balada sofredora - e derradeira - do disco, cuja aflição aumenta no decorrer da canção, de versos pouco inspirados como “a solidão mora comigo, já fez abrigo no meu coração”.
A partir do disco de 1974, a mineira de Tupaciguara (nome também do seu disco de 1978), que começou sua carreira discográfica gravando compactos na gravadora Chantecler, acompanhada do conjunto The Jet Blacks, passa a ser essencialmente uma cantora de música sertaneja ou, em outras palavras, country music abrasileirada. A consolidação de Nalva Aguiar neste gênero musical, garantiu seus principais sucessos, como “Dia de formatura” (Moacyr Franco) e “Tá de mal comigo” (Nhô Pai), a gravação de um LP em duo com o cantor gaúcho Teixeirinha, “Guerra dos desafios” (Chantecler/1984) e lhe conferiu vários títulos, como Rainha do peão de boiadeiro de Barretos e Queen of country music in Brazil, láurea que só poderia ter mesmo origem na capital internacional do country, Nashville (EUA).
Não resta dúvida, entretanto, que a peça mais consistente – e original – da obra de Nalva Aguiar seja seu disco gravado em 1974, por toda ousadia e experimentalismo artístico alcançados em uma gravadora major, sem igual naquele momento.
Texto publicado originalmente na revista Zingu! n°. 6
Labels: 1974, country-folk, Epic-CBS, Mauro Motta, Nalva Aguiar, Zingu
Friday, May 11, 2007
"Enchanté, muito merci, allright!"
"Noel foi quem acreditou em mim, desde o primeiro dia em que eu vi um microfone na vida.
Eu morava no Encantado, um subúrbio um pouco longe, e vivia cantando em festinhas... Eu cantei no candomblé da Paulina, na rua Borges Reis. Cantei na escola de samba “Somos de pouco falar”, no largo da Abolição. Cantei em coro de igreja protestante, no Méier. Mas isso tudo não rendia dinheirinho, e eu estava precisando de arrumar uma nota. Já estava farta de cantar de graça, e quem canta de graça é galo, mas tem certos direitos no terreiro.
Diante disso, eu estava louca para ir para o rádio, porque o rádio era a sensação daquela época, lá pelas bandas de 1932, 33, né? E apareceu lá um rapaz, um matusquela lá no Encantado, que era amigo de Custódio Mesquita. Eu arrumei uma roupinha melhorzinha que eu tinha, que não era lá muito legal, mas servia, né?, e fui até a avenida Rio Branco, pela primeira vez na minha vida, que eu não conhecia a cidade, nem nada. Era um verdadeiro xavante.
Custódio Mesquita estava lá, e me ensaiou um samba. Mas eu não estava dando no couro, porque eu estava muito nervosa, a primeira vez com um piano na minha frente pra me acompanhar! Eu aí resolvi partir pra marcha, porque marcha era mais fácil, era uma espécie de bossa-nova, qualquer tom servia e era naquela base, né?
Custódio aí disse:
- Tá bom Aracy, eu vou te levar então até a Rádio Educadora do Brasil.
Quando acabei de cantar aquela marchinha no programa de Pinóquio, eu... apareceu uma figurinha formidável, assim magrinha, assim, de terno de flanela branca, assim, uma gravata branca, camisa azul-marinho, sapato branco, muito bem vestido. Apareceu o Noel Rosa. E parece que foi pra me dar assim um pouco de alento, uma colherzinha de chá, vamos dizer assim, né? Disse:
- Aracy, eu gostei muito. Você cantou muito bem e tal...
Nós ficamos batendo um papo, coisa e loisa.... Nessas alturas, o Noel disse pra mim assim:
- Ô, Aracy?! Vamos tomar uma cerveja Cascatinha na Taberna da Glória?
Lá fui eu pra Taberna da Glória com o Noel, de bonde. Sentamos, encontramos uma porção de malandros conhecidos do Noel: Saturnino, Brancura, Zeca Meia-noite... Ele tinha uns amigos espetaculares, o Noel. Os malandros mais [gargalhando], mais gloriosos da época eram amigos de Noel Rosa. De maneira que, naquela turminha, fiquei eu ali botando as minhas banca, né?, cantando muito, porque eu cantava desde que acordava até que ia dormir. E aconteceu o seguinte: eu fiquei bebendo até de manhã cedo, naquela roda, parecia até que eu já conhecia eles e tal. E afinal de contas, cheguei em casa num porre que não tinha mais tamanho, né? E depois desse porre que eu tomei, eu me emendei com os da Glória:
- Eu pretendo hoje tomar um daqueles gloriosos às onze e meia.”
Melhor que ler, é ouvir a própria Aracy de Almeida contar a história (faixa 3 do disco “Samba pede passagem – show com Aracy de Almeida e Ismael Silva”, Polydor/Universal-1966) e ainda cantar um trecho de “Três apitos” (Noel Rosa).
Eu morava no Encantado, um subúrbio um pouco longe, e vivia cantando em festinhas... Eu cantei no candomblé da Paulina, na rua Borges Reis. Cantei na escola de samba “Somos de pouco falar”, no largo da Abolição. Cantei em coro de igreja protestante, no Méier. Mas isso tudo não rendia dinheirinho, e eu estava precisando de arrumar uma nota. Já estava farta de cantar de graça, e quem canta de graça é galo, mas tem certos direitos no terreiro.
Diante disso, eu estava louca para ir para o rádio, porque o rádio era a sensação daquela época, lá pelas bandas de 1932, 33, né? E apareceu lá um rapaz, um matusquela lá no Encantado, que era amigo de Custódio Mesquita. Eu arrumei uma roupinha melhorzinha que eu tinha, que não era lá muito legal, mas servia, né?, e fui até a avenida Rio Branco, pela primeira vez na minha vida, que eu não conhecia a cidade, nem nada. Era um verdadeiro xavante.
Custódio Mesquita estava lá, e me ensaiou um samba. Mas eu não estava dando no couro, porque eu estava muito nervosa, a primeira vez com um piano na minha frente pra me acompanhar! Eu aí resolvi partir pra marcha, porque marcha era mais fácil, era uma espécie de bossa-nova, qualquer tom servia e era naquela base, né?
Custódio aí disse:
- Tá bom Aracy, eu vou te levar então até a Rádio Educadora do Brasil.
Quando acabei de cantar aquela marchinha no programa de Pinóquio, eu... apareceu uma figurinha formidável, assim magrinha, assim, de terno de flanela branca, assim, uma gravata branca, camisa azul-marinho, sapato branco, muito bem vestido. Apareceu o Noel Rosa. E parece que foi pra me dar assim um pouco de alento, uma colherzinha de chá, vamos dizer assim, né? Disse:
- Aracy, eu gostei muito. Você cantou muito bem e tal...
Nós ficamos batendo um papo, coisa e loisa.... Nessas alturas, o Noel disse pra mim assim:
- Ô, Aracy?! Vamos tomar uma cerveja Cascatinha na Taberna da Glória?
Lá fui eu pra Taberna da Glória com o Noel, de bonde. Sentamos, encontramos uma porção de malandros conhecidos do Noel: Saturnino, Brancura, Zeca Meia-noite... Ele tinha uns amigos espetaculares, o Noel. Os malandros mais [gargalhando], mais gloriosos da época eram amigos de Noel Rosa. De maneira que, naquela turminha, fiquei eu ali botando as minhas banca, né?, cantando muito, porque eu cantava desde que acordava até que ia dormir. E aconteceu o seguinte: eu fiquei bebendo até de manhã cedo, naquela roda, parecia até que eu já conhecia eles e tal. E afinal de contas, cheguei em casa num porre que não tinha mais tamanho, né? E depois desse porre que eu tomei, eu me emendei com os da Glória:
- Eu pretendo hoje tomar um daqueles gloriosos às onze e meia.”
Melhor que ler, é ouvir a própria Aracy de Almeida contar a história (faixa 3 do disco “Samba pede passagem – show com Aracy de Almeida e Ismael Silva”, Polydor/Universal-1966) e ainda cantar um trecho de “Três apitos” (Noel Rosa).
Labels: Aracy de Almeida, Custódio Mesquita, Noel Rosa, Samba pede passagem, Taberna da Glória
Monday, April 23, 2007
Monday, April 09, 2007
Vinte e seis anos de vida normal
Sei que (Cinco) eu passei lendo jornal
Vinte e seis anos querendo você
Fato (Quatro) eu passei vendo tevê
Sei que muita coisa que eu quis eu não fiz
Sei que muita coisa que eu fiz eu não quis
Hoje meu nome li no edital
Morreu em vida lendo jornal
Civilização do Ocidente, atenção
Vou voltar à (botar a) vida na (à) margem da cruz
Quero meu nome ler no edital
Vinte e seis anos foi marginal
Vinte e seis anos foi marginal
Com Marcos Valle ou com Erasmo Carlos?
Labels: Erasmo Carlos, Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle, Vinte e seis anos de vida normal
Thursday, March 08, 2007
Na Zingu! 5 n°. 2
“Boite” e gravadora de discos, “Drink” foi a marca e o nome criados pelo violonista e empresário Djalma Ferreira, nos anos 1950, para, com seus “Milionários do ritmo” (conjunto de formação sempre sujeita a alterações, de que participaram o então contra-baixista e depois organista Ed Lincoln, o tecladista Celso Murilo, o violonista Waltel Branco, o cantor e pandeirista Miltinho, o percussionista Rubens Bassini e o cantor excepcional que Wilson Simonal se mostrou), ganhar muito dinheiro e circular mundo afora, em prol da divulgação da música brasileira.
À frente da banda, revezavam-se os “crooners” Pedrinho Rodrigues, Wilson Simonal e Miltinho e, como vozes femininas, Sandra e Lila.
Lila? “Lila de quê? De nada. Lila, simplesmente”, afirmava, com convicção, no texto da contracapa do primeiro disco da artista, “A madrugada na voz” (Columbia/1961), o compositor e também cantor Sílvio César, ou Sylvio Cezar, como foi grafado seu nome como autor de várias das faixas do álbum e do texto de introdução da cantora ao “amigo discófilo”.
O disco é sambalanço em estado bruto, com acompanhamento do conjunto do maestro, arranjador e trombonista Astor Silva, residente da gravadora Columbia. Samba de gafieira, samba de boate, samba de “teleco-teco”, sambolero... Os arranjos eram jazzísticos, com solos de guitarra, metais e um piano rítmico, bem percussivo. O coro formado pelas vozes dos músicos suingava com o restante do conjunto. Da mistura de todos esses sub-gêneros do samba, tidos como popularescos, surgiria o cultuado e refinado “samba-jazz”, ápice da originalidade à brasileira.
Ainda não vertidos para o “samba-jazz”, do primeiro disco de Lila, dois temas se tornaram clássicos do estilo: “Nunca mais”, de letra melancólica, mas com ritmo contagiante, um “lamento” na voz de Lila, e “Olhou pra mim”, com introdução explosiva, levada adiante pela guitarra, ambos compostos por Ed Lincoln e Sílvio César.
“Vai com deus”, de Luís Bandeira e Sílvio César é um autêntico sambolero. “Saudade intrusa”, de Vadico, parceiro de Noel Rosa, usa da tentativa de urbanização das favelas para tratar da decepção amorosa: “Apesar do seu desejo, não há ordem de despejo que me arranque daqui”.
No seu segundo disco, “Gosto da noite” (CBS/1963), Lila contou com acompanhamento do conjunto da casa, já acrescido de um balançante órgão, instrumento que tão bem se adaptou à sonoridade do LP, cujo repertório teve metade das faixas ocupada por composições de Sílvio César.
“É um estouro”, de Jayme Silva e Neuza Teixeira (os mesmos autores de “O pato”, que se transformou em “standard” na interpretação de João Gilberto) abre o disco, e Lila nos conta a história da mulata dançarina de boate, que deveria ser efetivamente “um estouro”.
A faixa-título, a única balada do álbum, de Newton Pereira e Ivan Paulo da Silva, o maestro Carioca, é chorosa, matéria-prima para a boêmia do início dos 1960: “Somente a noite é companheira, fiel à minha dor, somente a noite sabe onde está o meu amor”. Com suingue irrestível, “Conselho a quem quiser voltar” e “Pra quê?”, do quase onipresente Sílvio César, foram “música de fundo” de muitas reconciliações amorosas, apesar do ritmo cadenciado e da irreverência da letra desta última, na voz doce de Lila: “Pra que fazer comédia assim? Se eu gosto de você, e você gosta de mim”.
Lila gravou os dois discos e sumiu como gato preto na madrugada. É preciso então voltar à pergunta feita no início. Lila? “Lila de quê?” De quê, Sílvio César? “De nada” não é resposta que satisfaz a curiosidade do ouvinte diante da obra curta, mas impactante de Lila.
A madrugada na voz – Columbia/1961 – 37168
Gosto da noite – CBS/1963 - 37284
À frente da banda, revezavam-se os “crooners” Pedrinho Rodrigues, Wilson Simonal e Miltinho e, como vozes femininas, Sandra e Lila.
Lila? “Lila de quê? De nada. Lila, simplesmente”, afirmava, com convicção, no texto da contracapa do primeiro disco da artista, “A madrugada na voz” (Columbia/1961), o compositor e também cantor Sílvio César, ou Sylvio Cezar, como foi grafado seu nome como autor de várias das faixas do álbum e do texto de introdução da cantora ao “amigo discófilo”.
O disco é sambalanço em estado bruto, com acompanhamento do conjunto do maestro, arranjador e trombonista Astor Silva, residente da gravadora Columbia. Samba de gafieira, samba de boate, samba de “teleco-teco”, sambolero... Os arranjos eram jazzísticos, com solos de guitarra, metais e um piano rítmico, bem percussivo. O coro formado pelas vozes dos músicos suingava com o restante do conjunto. Da mistura de todos esses sub-gêneros do samba, tidos como popularescos, surgiria o cultuado e refinado “samba-jazz”, ápice da originalidade à brasileira.
Ainda não vertidos para o “samba-jazz”, do primeiro disco de Lila, dois temas se tornaram clássicos do estilo: “Nunca mais”, de letra melancólica, mas com ritmo contagiante, um “lamento” na voz de Lila, e “Olhou pra mim”, com introdução explosiva, levada adiante pela guitarra, ambos compostos por Ed Lincoln e Sílvio César.
“Vai com deus”, de Luís Bandeira e Sílvio César é um autêntico sambolero. “Saudade intrusa”, de Vadico, parceiro de Noel Rosa, usa da tentativa de urbanização das favelas para tratar da decepção amorosa: “Apesar do seu desejo, não há ordem de despejo que me arranque daqui”.
No seu segundo disco, “Gosto da noite” (CBS/1963), Lila contou com acompanhamento do conjunto da casa, já acrescido de um balançante órgão, instrumento que tão bem se adaptou à sonoridade do LP, cujo repertório teve metade das faixas ocupada por composições de Sílvio César.
“É um estouro”, de Jayme Silva e Neuza Teixeira (os mesmos autores de “O pato”, que se transformou em “standard” na interpretação de João Gilberto) abre o disco, e Lila nos conta a história da mulata dançarina de boate, que deveria ser efetivamente “um estouro”.
A faixa-título, a única balada do álbum, de Newton Pereira e Ivan Paulo da Silva, o maestro Carioca, é chorosa, matéria-prima para a boêmia do início dos 1960: “Somente a noite é companheira, fiel à minha dor, somente a noite sabe onde está o meu amor”. Com suingue irrestível, “Conselho a quem quiser voltar” e “Pra quê?”, do quase onipresente Sílvio César, foram “música de fundo” de muitas reconciliações amorosas, apesar do ritmo cadenciado e da irreverência da letra desta última, na voz doce de Lila: “Pra que fazer comédia assim? Se eu gosto de você, e você gosta de mim”.
Lila gravou os dois discos e sumiu como gato preto na madrugada. É preciso então voltar à pergunta feita no início. Lila? “Lila de quê?” De quê, Sílvio César? “De nada” não é resposta que satisfaz a curiosidade do ouvinte diante da obra curta, mas impactante de Lila.
A madrugada na voz – Columbia/1961 – 37168
Gosto da noite – CBS/1963 - 37284
Texto publicado na revista Zingu! n° 5
Thursday, February 01, 2007
Wednesday, January 24, 2007
Na Zingu! 4 n°. 1
“Nascida e criada na melhor sociedade de São Paulo”, Maria Thereza ganhou notoriedade mais pela sua indefectível mecha branca nos cabelos, do que pela música que produziu e até mesmo pelo próprio nome, partilhado com o da mulher do ex-presidente João “Jango” Goulart, a elegante primeira-dama do Brasil do início dos anos 60.
Mulher, profissão artista, não era vista com bons olhos ainda no final dos anos 50, apesar do estrondoso sucesso de Carmen Miranda nas décadas anteriores. Na música clássica, a intérprete Guiomar Novaes era respeitadíssima pela excelência do seu teclado, mas, na popular, especialmente a cantada, qualquer artista mulher passava ao largo do prestígio de que dispunham seus pares do sexo masculino. Carolina Cardoso de Menezes e Tia Amélia eram muito consideradas como pianistas populares de marchinhas, chorinhos e “tanguinhos brasileiros”. Mas o que dizer das cantoras? E das cantoras e compositoras? Mais ainda: das cantoras, compositoras e violonistas? Eram motivo de vergonha dos pais, por levarem uma dita “vida fácil”, no mínimo.
Aberto o caminho por Aracy Cortes, Dalva de Oliveira, Aracy de Almeida, Nora Ney e Elizeth Cardoso, dentre outras, o surgimento de Doris Monteiro – sempre acompanhada pela mãe, frise-se - como cantora, Maysa, como cantora e compositora, e de Inezita Barroso, como cantora e violonista, foi o estopim para o boom de cantoras personalistas da bossa-nova: Sylvia Telles, Nara Leão, Wanda Sá e de outras de repertório mais conservador como Dulce Salles Cunha Braga (socialite paulistana que enveredou também pela política) e da própria Maria Thereza, a “Mecha Branca”.
Maria Thereza, de voz suave, sem afetações - em suma, uma diseuse -, estreou a carreira fonográfica justamente com o disco que contém seu maior êxito, o samba-canção autobiográfico “Mecha Branca”, pela etiqueta Copacabana, circa 1960. O álbum incluía interpretações de standards da música de então: “Trying”, de Billy Vaughn, “A noite do meu bem”, da também cantora e compositora Dolores Duran, “Cry me a river”, de Arthur Hamilton, perpetuada pela gravação de Julie London anos antes, “Smile”, de Chaplin, Turner e Parsons, incluída na banda sonora de “Tempos modernos”. Afora “Mecha Branca”, Maria Thereza compôs e gravou no disco homônimo, além de cantá-las e tocá-las ao violão, “Se você quer ficar”, “Se o meu coração falasse” e o delicioso sambalanço – pejorativamente chamado de “samba de teleco-teco” – “Convencido do sete, sete, nove”. Há ainda que se destacar dois outros belos sambas-canção: “Além” de Sidney Morais (um dos irmãos do sensacional Os Três Morais) e Edison Borges e “Suas mãos”, clássico de Pernambuco e Antônio Maria.
Ainda na década de 60, Maria Thereza deixou registrado “Novamente, Mecha Branca”, na mesma Copacabana, que juntamente com o disco anterior, serviu de material para um exemplar da série de coletâneas “Colagem” no final dos 60.
Nos anos 70, Maria Thereza, assídua participante do programa televisivo de Flávio Cavalcanti, gravou mais dois álbuns: o impressionante “Pra matar saudade”, com capa tipo “jaqueta”, ilustrada à la Elifas Andreato, de 1976, e “Simplesmente, coração”, de 1979, ambos editados pela EMI-Odeon e arranjados pelo maestro José Briamonte.
“Pra matar saudade” cumpre fielmente seu objetivo. Logo na primeira faixa fez-se um “medley” que incluía: “Mecha Branca”, “Castigo”, de Dolores Duran, “Eu não sou de reclamar”, de Lupicínio Rodrigues, “Franqueza”, de Denis Brean e Oswaldo Guilherme, “Se eu morresse amanhã de manhã”, de Antonio Maria, “Não tenho você”, de Ary Monteiro e Paulo Marques e “Chuvas de verão”, de Fernando Lobo, para depois desfilar clássicos “dor-de-cotovelo” da canção brasileira, adornados por arranjos belíssimos de Briamonte: “Proposta”, e a subestimada “O show já terminou”, de Roberto e Erasmo Carlos, “Nunca mais”, de Dorival Caymmi, “Pra você”, de Silvio César, “Tarde triste”, de Maysa, “Universo no teu corpo”, de Taiguara e a declamação de “Você”, poema capaz de fazer corar uma Cecília Meirelles, que fecha o álbum de forma absolutamente aterradora.
Discografia:
Mecha Branca – Copacabana – CLP11134 – 1960?
Novamente, Mecha Branca – Copacabana – CLP11433 – 1963?
Série Colagem (coletânea) – Copacabana – CGLP40402 – 1969?
Pra matar saudade – EMI-Odeon – SXMOFB3914 – 1976
Simplesmente, coração – EMI-Odeon - 1979
Publicado originalmente em http://revistazingu.blogspot.com e no Jornal de Jundiaí de 25/02/07: http://www.portaljj.com.br/interna.asp?Int_IDSecao=15&Int_ID=12725
Monday, December 11, 2006
Friday, December 01, 2006
- Quantas notas, maestro? - Três.
Maria Bethânia
Pássaro probido
Philips/Universal-1976
Relançamento em CD: 2006
Há 30 anos, Maria Bethânia, cantora já consolidada nos meios intelectuais, mas ainda com penetração tímida no mercado do grande público, lançava “Pássaro proibido” (Philips/Universal), disco que pode ser considerado o ponto central de sua carreira artística.
Maria Bethânia
Pássaro probido
Philips/Universal-1976
Relançamento em CD: 2006
Há 30 anos, Maria Bethânia, cantora já consolidada nos meios intelectuais, mas ainda com penetração tímida no mercado do grande público, lançava “Pássaro proibido” (Philips/Universal), disco que pode ser considerado o ponto central de sua carreira artística.
Conceitual como os anteriores e também como muitos que se seguiram, mesclava canções de seu conterrâneo e contemporâneo Gilberto Gil, “Balada do lado sem luz”, sambas de Custódio Mesquita e Herivelto Martins, “Mãe Maria” e “A Bahia te espera”, respectivamente, já gravados na década de 50 pela sua predileta (e grande influência) Dalva de Oliveira, batuque de louvor aos orixás, “As Ayabás”, “Amor, amor”, de Sueli Costa e Cacaso, e a faixa-título, composta e interpretada pelo irmão Caetano Veloso.
Mas o grande “hit” foi a balada “Olhos nos olhos”, de Chico Buarque, desde então clássico instantâneo do autor e da intérprete, responsável por tornar a “Abelha Rainha” uma artista de apelo popular, consagrada definitivamente pelos álbuns “Álibi” (1978) e “Mel” (1979), de vendagens milionárias.
Para o Arturo Guerra-Peixe do Lago
Agnaldo Timóteo
O sucesso é Agnaldo Timóteo
Odeon/EMI-1968
Relançamento em CD: 2002
Antes de se converter em político reacionário (embora tenha sido eleito deputado federal pelo PDT de Brizola nos anos 80), Agnaldo Timóteo gravou discos de enorme sucesso nas décadas de 60 e 70, como este auto-proclamado “O sucesso é Agnaldo Timóteo” (Odeon/EMI-1968).
O sucesso é Agnaldo Timóteo
Odeon/EMI-1968
Relançamento em CD: 2002
Antes de se converter em político reacionário (embora tenha sido eleito deputado federal pelo PDT de Brizola nos anos 80), Agnaldo Timóteo gravou discos de enorme sucesso nas décadas de 60 e 70, como este auto-proclamado “O sucesso é Agnaldo Timóteo” (Odeon/EMI-1968).
O repertório do álbum incluía muitas versões para músicas de grande êxito mundial. Dentre elas destacavam-se a italiana “Quando me enamoro” e o tema do filme ”The valley of dolls”, muito conhecido pela gravação da cantora Dionne Warwick, gravada pelo cantor como “O vale dos sonhos”. Os arranjos de orquestra – soberbos, com sopros, cordas e coro – ficaram a cargo dos maestros Orlando Silveira e Edmundo Peruzzi, que, com sua Orquestra Jovem, animou inúmeros bailes da Jovem Guarda.
O disco contava ainda com duas baladas dilacerantes compostas pela dupla porta-voz da “dor-de-cotovelo”, Evaldo Gouveia e Jair Amorim: “Adoração” e “Piedade, amor”, além de “Deixe-me outro dia, menos hoje”, pérola de Roberto e Erasmo Carlos, dada a Agnaldo especialmente para a gravação deste álbum.
Marlene
É a maior!
RGE/Fermata/Som Livre-1970
Relançamento em CD: 2006
Disco surpreendente da cantora paulistana Marlene que deu início a uma série de gravações reveladoras da faceta teatral da “Rainha do rádio”, cujo ponto culminante foi o espetáculo “Te pego pela palavra”, de 1974.
Sob a direção de Fauzi Arap e Hermínio Bello de Carvalho, e acompanhada do conjunto liderado pelo excepcional Arthur Verocai, Marlene desfilava canções clássicas de seu repertório, como “Lata d’água” (Luiz Antônio/Jota Jr.), “Uva de caminhão” (Assis Valente) e o baião “Qui nem jiló” (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira), entremeadas por falas confessionais acerca de sua personalidade artística e do fardo pesado da fama, além de canções recentes: “País tropical” (Jorge Ben), “Mustang cor de sangue” (Marcos Valle/Paulo Sérgio Valle), sem deixar de registrar a sua interpretação intimista para “Coração vagabundo”, de Caetano Veloso.
Monday, October 30, 2006
Faz-me rir, Edith Veiga!
A "Folha de S. Paulo", periódico que se impõe como "um jornal a serviço do Brasil", outorgou ao seu suplemento "cultural" de domingo, 29 de outubro de 2006, "+mais!", o seguinte título: "O embate decisivo". A chamada da capa dizia se tratar de um convite feito pelo jornal a seis especialistas, com a finalidade de discutirem "questões controversas da sociedade contemporânea", como Brasil versus Índia, estatal versus privado, orgânico versus transgênico e Chico versus Caetano.
A "Folha de S. Paulo", periódico que se impõe como "um jornal a serviço do Brasil", outorgou ao seu suplemento "cultural" de domingo, 29 de outubro de 2006, "+mais!", o seguinte título: "O embate decisivo". A chamada da capa dizia se tratar de um convite feito pelo jornal a seis especialistas, com a finalidade de discutirem "questões controversas da sociedade contemporânea", como Brasil versus Índia, estatal versus privado, orgânico versus transgênico e Chico versus Caetano.
Hein?! Chico contra Caetano? Caetano contra Chico? Pode-se dar a esse suposto embate a qualidade de uma das "questões controversas da sociedade contemporânea"? Será que o eminente editor do caderno (informação não encontrada no expediente do jornal) prefere Marlene ou Emilinha?
Subscreve o plácido texto "Rios profundos" o maestro e crítico musical Júlio Medaglia, autor de "Música Impopular" (ed. Global), título sintético que sugere muito do que pensa o ora articulista sobre a arte musical. Ou seja: "Credo em cruz, ave maria! Música popular? Isso é tema acadêmico", donde se conclui que o "former-Tropicalia member", também ex-integrante do movimento "Música Nova" (!) só pode considerar que "recuperar a criatividade popular espontânea (...) parece impossível", tendo em conta o caráter excelso - e contemporâneo - atribuído aos personagens-mote do texto magistral.
(Os trechos mais estonteantes vão em negrito, e alguns comentários, em itálico.)
Chico X Caetano
Rios profundos
JÚLIO MEDAGLIA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Dada a diversidade, criatividade, importância social e cultural da música popular brasileira, ela sempre esteve, de variadas maneiras, envolvida com movimentações de natureza política. Num claro contraponto ao seu radicalismo político nacionalista, populista e trabalhista, Getúlio Vargas, por exemplo, ao implantar o Estado Novo nos anos 1930, não hesitou um segundo em cooptar grande parte da intelectualidade da época, oferecendo-lhe confortáveis cargos públicos.
Criou, sem pudores, verdadeiros "pelegos" culturais semelhantes aos sindicais que havia criado e deu maciço apoio técnico e financeiro à Rádio Nacional, espécie de praça da alegria do regime, cujo alarido festivo encobria os murmúrios de algumas poucas vozes discordantes, [Quais eram elas? O Carlos Prestes ou o Carlos Lacerda?] devidamente abafadas pelos censores do Departamento de Imprensa e Propaganda ou pelos cassetetes de sua "SS" particular, comandada por Felinto Müller.
A geração de músicos que nasceu no final dos anos 50 e no delírio dos 60, ainda em atividade, teve uma postura diametralmente oposta, aliás, sem exceções. [Sem exceções?! Agnaldo Rayol e Wilma Bentivegna. O maestro já ouviu ao menos falar (nem se cogita que tenha escutado algum de seus discos) desses artistas?] Não só, com grande coragem, bateu de frente com os algozes da ditadura de 64 [sic] como criou uma música de qualidade, inspirada, arraigada em nossa cultura, a qual, mais por meio da linguagem que da língua, tirava o sono dos milicos.
Noel e eletronismos
Nascida nos sofisticados redutos da zona sul carioca, a bossa nova, por ser um movimento jovem [Viva o samba de uma nota só, maestro!], não tardou em desenvolver um viés político, muito adequado aos shows de universitários. Se uma linha mais "lírica" foi mantida, liderada pelo gênio maior do movimento, Tom Jobim, as correntes não se conflitavam. [Não?! A música de Nara Leão e a de Sergio Mendes, só pra citar os highlights, não se chocavam, maestro?]
E essa linha mais "pensante" e comprometida com nossa realidade da MPB desenvolveu-se ainda mais com a chegada do tropicalismo.
Ou seja, Chico e Caetano estavam do mesmo lado, [Ué... A rubrica do artigo não é Chico x Caetano? Chico Buarque era tropicalista?! Caetano era noelista?! Mais um viva! Agora para o revisionismo histórico.] ainda que suas músicas tivessem características diversas. Chico, por meio de uma coloquialidade a la [sic] Noel Rosa, por meio de uma fina poética, abordava destinos e fatos aparentemente suburbanos que, na verdade, traziam subtextos repletos de informações que aqueciam a atmosfera política do momento.
Caetano, no outro extremo, fazia uma música de pretensões universalistas, apoiada nos eletronismos de linguagens atuais assim como no repertório de vanguarda da música erudita. O talento de ambos, porém, fazia com que suas contribuições se espalhassem e confortassem corações e mentes ansiosas, [Mais um viva para a intelectuália do eixo Rio-São Paulo! É de se duvidar da penetração que teve a música de Caetano Veloso e Chico Buarque além da classe-média intelectualizada do Sudeste.] tornando inesquecíveis aqueles momentos de nossa cultura popular.
Os tempos mudaram, ambos aí estão, mas, desta vez, em caminhos opostos profissional e politicamente. Chico parece ter se desencantado com a criação musical após a liberação geral das possibilidades de expressão, interessando-se por outras formas de expressão. [Quais? A arquitetura? O futebol? A literatura? O teatro?]
Caetano, irrequieto, [realmente...] segue atuando sempre com novos projetos, a cada ano mantendo o pique da fase tropicalista. [O tropicalismo não foi dado como morto pelo próprio no final de 1968?]
Por sua presença no dia-a-dia da movimentação cultural e social do país, Caetano resolve adotar uma posição crítica ao atual governo, [Isso justifica as opiniões políticas de Caetano? Seria ele mais bem informado e cônscio do que nós todos?] envolvido em intrincadas teias. [Por que não dizer a palavrinha corrupção, maestro?] Chico, como num ato de nostalgia, resolve apoiar Lula, talvez o imaginando ainda a figura heróica dos tempos de chumbo, era em que o próprio Chico também fora vítima da repressão.
Numa terceira via, [Anthony Giddens que não leia essa comparação rasteira] porém, corre a atual música popular brasileira produzida pela indústria da comunicação eletrônica, destituída de talentos como os de Chico e Caetano.
Seja qual for o vencedor da eleição, dificilmente vamos ter momentos como aqueles representados por ambos. [Como é que é? O Presidente da República é capaz de doutrinar a cultura a ponto de sufocar a produção de novos artistas? Vivace, ma non troppo, maestro!] Despoluir um rio é fácil. [Essa frase explica o título do artigo?] Recuperar a criatividade popular espontânea que havia neste país parece impossível, seja qual for o novo salvador da pátria. [Bravo!]
JÚLIO MEDAGLIA é maestro e crítico musical, autor de "Música Impopular" (ed. Global).
CD - Caetano Veloso acaba de lançar "Cê" (Universal). Já Chico lançou "Carioca" (Biscoito Fino).
Capa do compacto extraída daqui.
Capa do compacto extraída daqui.
Thursday, September 14, 2006
Chantez-vous avec le garçon
É tão gostoso, seu moço,
A gente ter um querer,
Que tendo a gente de longe
Sem nada a gente dizer
A gente mexe com os olhos,
Faz com os olhos que está bem
É tão gostoso, seu moço,
Mas pra mim, cadê? que tem?
De noite, não vi na rua
De dia, também não vi
Perguntei ao Sol e à Lua:
Disseram estar por aí
Procurei de porta em porta
Ninguém me disse ninguém
É tão gostoso, seu moço,
Mas pra mim, cadê? que tem?
É tão gostoso, seu moço,
Mas pra mim, cadê? que tem?
É tão gostoso, seu moço,
Mas pra mim, cadê? que tem?
Cadê? que tem?
Cadê? que tem?
Cadê? que tem?
Nora Ney canta É tão gostoso, seu moço (Chocolate/Mário Lago)
Lia agradece, e Juju inspira.
É tão gostoso, seu moço,
A gente ter um querer,
Que tendo a gente de longe
Sem nada a gente dizer
A gente mexe com os olhos,
Faz com os olhos que está bem
É tão gostoso, seu moço,
Mas pra mim, cadê? que tem?
De noite, não vi na rua
De dia, também não vi
Perguntei ao Sol e à Lua:
Disseram estar por aí
Procurei de porta em porta
Ninguém me disse ninguém
É tão gostoso, seu moço,
Mas pra mim, cadê? que tem?
É tão gostoso, seu moço,
Mas pra mim, cadê? que tem?
É tão gostoso, seu moço,
Mas pra mim, cadê? que tem?
Cadê? que tem?
Cadê? que tem?
Cadê? que tem?
Nora Ney canta É tão gostoso, seu moço (Chocolate/Mário Lago)
Lia agradece, e Juju inspira.
Monday, August 14, 2006
Wait 'til you see Her
Quero
Sentir seu corpo em meu corpo,
Pois sem você meu muito é pouco
Eu sinto tanto frio sem o seu calor
Quero
Sentir sua boca em minha boca
Dizer que ando quase louca
Pra ser sua mulher e ter o seu amor
Eu quero ser sua
Sua de qualquer jeito
Eu quero ser sua
Mesmo sem ter direito
Quero
Dizer que sinto sua falta,
Pois sua ausência me maltrata
E é grande o meu desejo por você
Quero por uma noite seu carinho
Do seu amor fazer meu ninho
Não quero nunca mais ouvir você dizer adeus
Quero, quero, quero, quero, quero seu amor
"Quero ser sua" (Odair José)
Quero
Sentir seu corpo em meu corpo,
Pois sem você meu muito é pouco
Eu sinto tanto frio sem o seu calor
Quero
Sentir sua boca em minha boca
Dizer que ando quase louca
Pra ser sua mulher e ter o seu amor
Eu quero ser sua
Sua de qualquer jeito
Eu quero ser sua
Mesmo sem ter direito
Quero
Dizer que sinto sua falta,
Pois sua ausência me maltrata
E é grande o meu desejo por você
Quero por uma noite seu carinho
Do seu amor fazer meu ninho
Não quero nunca mais ouvir você dizer adeus
Quero, quero, quero, quero, quero seu amor
"Quero ser sua" (Odair José)
Monday, July 31, 2006
Partida com o "filho da dor"
O fera Arturo Guerra-Peixe do Lago teve a idéia, assentida de pronto: "Standards do samba-jazz". Logo de cara, "Nanã", do agora octogenário Moacir Santos, com letra de Mario Telles. Ou "Coisa n°. 5", de acordo com o modelo conceitual seguido pelo maestro no disco "Coisas".
O fera Arturo Guerra-Peixe do Lago teve a idéia, assentida de pronto: "Standards do samba-jazz". Logo de cara, "Nanã", do agora octogenário Moacir Santos, com letra de Mario Telles. Ou "Coisa n°. 5", de acordo com o modelo conceitual seguido pelo maestro no disco "Coisas".
Dá pra ouvir, copiar, colocar nos i-Pods da vida... Começa a fase áudio do "Please, garçon!".
Sunday, July 02, 2006
Thursday, June 22, 2006
Thursday, May 18, 2006
Paul em El Dorado
No Nepal tudo é barato
No Nepal tudo é muito barato
No Nepal tudo é barato
No Nepal tudo é muito barato
No Nepal existe uma praça
Onde fica um monte de dinheiro
Quem precisa tira o que precisa
E quem ganha bota lá de novo
Lá não tem problema financeiro
E o povo é sempre muito ordeiro
No Nepal a juventude canta
E cultiva flores de outras terras
Pinta o corpo de todas as cores
E procura sempre as coisas certas
No Nepal o casamento é livre
E os sinais das ruas sempre abertos
No Nepal o ar é cristalino
E a verdade vem dentro dos ventos
E o carinho rende juros fortes
E o povo vive só de rendas
Eu te convido, companheira amada
A fugir para o Nepal comigo
(Fredera/Frederyko)
No Nepal tudo é barato
No Nepal tudo é muito barato
No Nepal tudo é barato
No Nepal tudo é muito barato
No Nepal existe uma praça
Onde fica um monte de dinheiro
Quem precisa tira o que precisa
E quem ganha bota lá de novo
Lá não tem problema financeiro
E o povo é sempre muito ordeiro
No Nepal a juventude canta
E cultiva flores de outras terras
Pinta o corpo de todas as cores
E procura sempre as coisas certas
No Nepal o casamento é livre
E os sinais das ruas sempre abertos
No Nepal o ar é cristalino
E a verdade vem dentro dos ventos
E o carinho rende juros fortes
E o povo vive só de rendas
Eu te convido, companheira amada
A fugir para o Nepal comigo
(Fredera/Frederyko)
Thursday, April 27, 2006
Monday, April 10, 2006
Monday, March 13, 2006
Tupã
Listas... Qual o maior (ou melhor?) cantor brasileiro de todos os tempos? Nelson Gonçalves? Francisco Alves? Wilson Simonal? Dick Farney? Orlando Silva? João Gilberto? Roberto Carlos? Altemar Dutra? (E o Agnaldo Timóteo? E o Waldick Soriano?)
Ou... Cauby Peixoto? “O maior cantor do Brasil”, dizem a seu respeito. Pelo sim ou pelo não, é um grande artista/personagem da música.
“Cauby” (1976/Som Livre) comprova, à parte seus maneirismos vocais (bem contidos aqui, por sinal), que o “Professor” pode cantar tangos, boleros e sambas, como um autêntico “crooner”. O “Frank Sinatra brasileiro”... Sinatra, aliás, já foi homenageado por Cauby em disco recente da década de 90.
De fato, Cauby, nos anos 60, era o “crooner” da boate “Drink”, no Leme, Rio de Janeiro, casa arrendada do empresário e músico Djalma Ferreira pelos quatro irmãos da família Peixoto: Moacyr, pianista, Araken, trompetista, Andyara, cantora (“a rainha dos cassinos”) e Cauby, o intérprete.
Cauby, assim como seu primo Cyro Monteiro, era também “sobrinho de Nonô” (Romualdo Peixoto no livro do registro civil), um dos principais modernizadores do samba nas décadas de 20 e 30.
Vinicius de Moraes e Baden Powell, “especialmente para Cyro Monteiro”, citaram seu nome no famoso “Samba da bênção”, como o sobrinho de Nonô. Cauby não constava da lista de nomes elencados por Vinicius. Não ganhou um saravá do “preto mais branco do Brasil”. Pudera... Para os puristas, Cauby era um mero intérprete, que disseram voltou americanizado, ao passo que Cyro cantava de forma especialíssima, sincopada, “na cadência do samba”, tendo por acompanhamento o indefectível batuque de sua caixinha de fósforos.
Vivo, Cauby é o maior dos intérpretes brasileiros. Sua presença nos palcos é marcante, com aquela aura andrógina de Ney Matogrosso e Maria Bethânia. Sua voz de timbre grave e aveludado é única.
“Cauby”, de 1976, é majoritariamente um disco de sambas do “compositor da fossa”, Adelino Moreira, também produtor do disco.
Na primeira faixa, “Perdão, Mangueira”, um sambão quase-jóia, daqueles que crescem à medida que terminam, de Rutinaldo e Adelino Moreira, Cauby já está à vontade, no comando do coro que repete o refrão.
O sentimentalismo afetado (ou brega, como preferem alguns) não deixa de pautar “Lencinho querido” (“El pañuelito”), canção de C. Coria Peñalosa e Juan de Dios Filisberto, versionada por Maugéri Neto: “guardo o lencinho branco/manchado pelo carmim dos teus lábios/quando te beijei”.
“Pecado ambulante” (Adelino Moreira), “Onde anda você” (Vinicius de Moraes/Hermano Silva), “Duas contas” (Garoto) têm como tema o amor romântico e saudoso, "aboleirado", à moda dos anos 50, com destaque para o trombone de gafieira do espetacular maestro Nelsinho na faixa de Adelino Moreira.
Irrepreensível a gravação do tango “Jura-me” (“Jurame”), da ótima Maria Grever, em versão de Ariowaldo Pires. Cauby, “com fervor e com loucura”, confessa: “tenho medo que a sombra de outro afeto/desfaça um dia esta visão tão clara”.
“O surdo” (Totonho/Paulo Rezende), sucesso na voz de Alcione em seu disco de estréia no ano anterior, é a versão setentista de “dói, um tapinha não dói”, hino fetichista-feminista do chamado funk “pancadão” carioca.
Newton Teixeira, grande compositor retomado por Nara Leão no seu disco “Opinião de Nara”, teve regravados por Cauby dois de seus clássicos: “Malmequer” e “Avenida iluminada”.
“O que foi que eu fiz”, de Augusto Vasseur e Luiz Peixoto, sucesso de Nora Ney na década de 50, em sua primeira parte é adornada por um competente conjunto de choro, incluindo um elegante violão de sete cordas, e pela voz em tom baixo e suave de Cauby. Na segunda parte, a faixa é recortada por um arranjo de cordas suntuoso e polvilhada por um discreto piano elétrico Fender Rhodes.
“Cansei” (Celso Castro/Raul Sampaio) encerra o disco com uma certa malandragem, do tipo em que se dá “soco em faca de ponta”.
Cauby desorientou-se a partir da década de 70. Acumulou críticas injuriosas e baixas vendagens de discos e passou a se apresentar em pequenas casas de show. Trocou o figurino Clark Gable por um guarda-roupas “glitter”, de fazer inveja às estrelas do glam-rock de David Bowie.
O “bel canto”, predominante na música brasileira antes da consagração da bossa-nova e da natimorta tropicália, ficara “cafona”, embora não nunca tivesse deixado de agradar aos ouvidos do “povão”. Justifica-se afirmando que o povo escuta o que lhe é posto. Para inverter o “status quo ante”, é necessário doutriná-lo com o que há de mais puro (o samba de Cartola, por exemplo) ou com o que há de mais avançado (como as vanguardas introduzidas a partir do tropicalismo). Na transição, artistas do quilate do professor Cauby Peixoto vagaram sem rumo, errantes como “a volta do boêmio” de Adelino Moreira.
Buscar os louros da crítica ou o sucesso do público? Tentar ler poemas pretensamente cantados à moda concretista ou entoar boleros e baladas românticas universais?
No disco “Cauby! Cauby!”, de 1980, talvez haja a resposta: Chico Buarque, Caetano Veloso, Silvio Caldas e Orestes Barbosa, pupilos e mestres, fizeram uma pajelança em louvor ao aluno e professor Cauby Peixoto.
* Com a inestimável colaboração pictórica de Arturo Guerra-Peixe de Aguiar
Listas... Qual o maior (ou melhor?) cantor brasileiro de todos os tempos? Nelson Gonçalves? Francisco Alves? Wilson Simonal? Dick Farney? Orlando Silva? João Gilberto? Roberto Carlos? Altemar Dutra? (E o Agnaldo Timóteo? E o Waldick Soriano?)
Ou... Cauby Peixoto? “O maior cantor do Brasil”, dizem a seu respeito. Pelo sim ou pelo não, é um grande artista/personagem da música.
“Cauby” (1976/Som Livre) comprova, à parte seus maneirismos vocais (bem contidos aqui, por sinal), que o “Professor” pode cantar tangos, boleros e sambas, como um autêntico “crooner”. O “Frank Sinatra brasileiro”... Sinatra, aliás, já foi homenageado por Cauby em disco recente da década de 90.
De fato, Cauby, nos anos 60, era o “crooner” da boate “Drink”, no Leme, Rio de Janeiro, casa arrendada do empresário e músico Djalma Ferreira pelos quatro irmãos da família Peixoto: Moacyr, pianista, Araken, trompetista, Andyara, cantora (“a rainha dos cassinos”) e Cauby, o intérprete.
Cauby, assim como seu primo Cyro Monteiro, era também “sobrinho de Nonô” (Romualdo Peixoto no livro do registro civil), um dos principais modernizadores do samba nas décadas de 20 e 30.
Vinicius de Moraes e Baden Powell, “especialmente para Cyro Monteiro”, citaram seu nome no famoso “Samba da bênção”, como o sobrinho de Nonô. Cauby não constava da lista de nomes elencados por Vinicius. Não ganhou um saravá do “preto mais branco do Brasil”. Pudera... Para os puristas, Cauby era um mero intérprete, que disseram voltou americanizado, ao passo que Cyro cantava de forma especialíssima, sincopada, “na cadência do samba”, tendo por acompanhamento o indefectível batuque de sua caixinha de fósforos.
Vivo, Cauby é o maior dos intérpretes brasileiros. Sua presença nos palcos é marcante, com aquela aura andrógina de Ney Matogrosso e Maria Bethânia. Sua voz de timbre grave e aveludado é única.
“Cauby”, de 1976, é majoritariamente um disco de sambas do “compositor da fossa”, Adelino Moreira, também produtor do disco.
Na primeira faixa, “Perdão, Mangueira”, um sambão quase-jóia, daqueles que crescem à medida que terminam, de Rutinaldo e Adelino Moreira, Cauby já está à vontade, no comando do coro que repete o refrão.
O sentimentalismo afetado (ou brega, como preferem alguns) não deixa de pautar “Lencinho querido” (“El pañuelito”), canção de C. Coria Peñalosa e Juan de Dios Filisberto, versionada por Maugéri Neto: “guardo o lencinho branco/manchado pelo carmim dos teus lábios/quando te beijei”.
“Pecado ambulante” (Adelino Moreira), “Onde anda você” (Vinicius de Moraes/Hermano Silva), “Duas contas” (Garoto) têm como tema o amor romântico e saudoso, "aboleirado", à moda dos anos 50, com destaque para o trombone de gafieira do espetacular maestro Nelsinho na faixa de Adelino Moreira.
Irrepreensível a gravação do tango “Jura-me” (“Jurame”), da ótima Maria Grever, em versão de Ariowaldo Pires. Cauby, “com fervor e com loucura”, confessa: “tenho medo que a sombra de outro afeto/desfaça um dia esta visão tão clara”.
“O surdo” (Totonho/Paulo Rezende), sucesso na voz de Alcione em seu disco de estréia no ano anterior, é a versão setentista de “dói, um tapinha não dói”, hino fetichista-feminista do chamado funk “pancadão” carioca.
Newton Teixeira, grande compositor retomado por Nara Leão no seu disco “Opinião de Nara”, teve regravados por Cauby dois de seus clássicos: “Malmequer” e “Avenida iluminada”.
“O que foi que eu fiz”, de Augusto Vasseur e Luiz Peixoto, sucesso de Nora Ney na década de 50, em sua primeira parte é adornada por um competente conjunto de choro, incluindo um elegante violão de sete cordas, e pela voz em tom baixo e suave de Cauby. Na segunda parte, a faixa é recortada por um arranjo de cordas suntuoso e polvilhada por um discreto piano elétrico Fender Rhodes.
“Cansei” (Celso Castro/Raul Sampaio) encerra o disco com uma certa malandragem, do tipo em que se dá “soco em faca de ponta”.
Cauby desorientou-se a partir da década de 70. Acumulou críticas injuriosas e baixas vendagens de discos e passou a se apresentar em pequenas casas de show. Trocou o figurino Clark Gable por um guarda-roupas “glitter”, de fazer inveja às estrelas do glam-rock de David Bowie.
O “bel canto”, predominante na música brasileira antes da consagração da bossa-nova e da natimorta tropicália, ficara “cafona”, embora não nunca tivesse deixado de agradar aos ouvidos do “povão”. Justifica-se afirmando que o povo escuta o que lhe é posto. Para inverter o “status quo ante”, é necessário doutriná-lo com o que há de mais puro (o samba de Cartola, por exemplo) ou com o que há de mais avançado (como as vanguardas introduzidas a partir do tropicalismo). Na transição, artistas do quilate do professor Cauby Peixoto vagaram sem rumo, errantes como “a volta do boêmio” de Adelino Moreira.
Buscar os louros da crítica ou o sucesso do público? Tentar ler poemas pretensamente cantados à moda concretista ou entoar boleros e baladas românticas universais?
No disco “Cauby! Cauby!”, de 1980, talvez haja a resposta: Chico Buarque, Caetano Veloso, Silvio Caldas e Orestes Barbosa, pupilos e mestres, fizeram uma pajelança em louvor ao aluno e professor Cauby Peixoto.
* Com a inestimável colaboração pictórica de Arturo Guerra-Peixe de Aguiar
Monday, February 13, 2006
"Feito em casa"
Não precisa torcer o nariz. O guisado não queimou, nem o caldo entornou no caldeirão. E a Iá-Iá ainda fez quindim para a sobremesa.
Sim, Sergio Mendes. O "vendido", como a dita "esquerda festiva" d'"O Pasquim" gostava tanto de repetir lá no início dos anos 70. Certamente o nome latino o ajudou a firmar a estaca do sucesso nos "States", mas sem seu talento, não haveria carreira que pudesse se sustentar, aqui, ali, em qualquer lugar.
Dez anos depois da versão "bubblegum" de "Mas, que nada" (Jorge Ben), Sergio Mendes tinha formado mais um grupo para acompanhá-lo, o Brasil 77, com quem gravou esse "Home cooking" (1976/Elektra-RCA-Sony&BMG).
Como bem descreve o "expert" Arnaldo DeSouteiro no texto incluído no encarte do disco relançado, dentro da série "RCA Original", o som do momento era o "fusion", um "mish-mash" de jazz, rock e funk, regado a r'n b.
A produção certeira feita por Mendes e a participação de excelentes músicos como Claudio Slon (bateria e percussão), Paulinho da Costa (percussão), Frank Rosolino e Raul de Souza (trombone), Oscar Castro Neves (violão), Michael Sembello (guitarra), Don Meza (sax tenor) e Hermeto Pascoal (flauta e Hammond) contribuem para que "Home cooking" seja quase um disco de "fusion". Não chega a tanto, graças ao balanço de Paulinho e ao pendão funky dos baixistas Chuck Rainey e Louis Johnson.
A presença de Gilberto Gil, se não bonifica, tampouco atrapalha, especialmente em "Emoriô" (João Donato/Gilberto Gil), faixa em que o baiano diz aquelas coisas sem lé nem cré, como é de sua praxe.
"Sunny day" e "It's so obvious that I love you" são o "must" do disco. A primeira é uma pérola pop. Os "riffs" inspirados de guitarra, as vozes poderosas das vocalistas, os trombones e o piano Fender Rhodes de Sergio Mendes que transpassa toda a faixa. Além do refrão deliciosamente grudento ("sunny day, sunny day, sunny day, yeah-yeah-yeah").
"It's so obvious that I love you", da lavra do casal Carlos e Kate Lyra, viria a ser gravada em 1977 por Nara Leão no LP "Os meus amigos são um barato" (Philips-Phonogram-Universal), só que na versão em português, "Cara bonita", sem dar crédito a Kate Lyra, atual defensora do feminismo no chamado funk carioca, pela participação na composição.
(Nara jamais deixaria registrada, naquele então, uma despretensiosa "canção para inglês ver". O máximo a que se permitiu foi dizer "yeah" em "Sarará miolo", com o beneplácito do tropicalista Gil.)
"Tell me in a whisper" (Edgar Winter/Dan Hartman) poderia ocupar o lugar de qualquer outra faixa numa coletânea "lounge" de restaurante tailandês moderninho. É "new-bossa" como Celso Fonseca e congêneres tentam fazer há vários anos.
Com muita pimenta vermelha, os cozinheiros e seu "Chef" aprontaram uma boa caldeirada, feita em casa. Aqui ou lá. Não importa.
Thursday, February 09, 2006
"È la ploggia che va"
Nesse mundo cheio de dinheiro e ambição,
Tenho andado procurando uma ilusão
Muita gente esquece a vida, faz morrer a esperança,
Sem querer acreditar que existe amor
O mundo está mudando,
Sem querer, se perdendo
E no céu milhões de nuvens
Já começam a chorar
E a chuva cairá
Nesse mundo pequeno
Noutro dia, eu sozinho, num lugar que é bem tristonho,
Percebi que a esperança é um sonho
Muita gente de lutar está cansada
E não crê em mais nada
E foge desse mundo
O mundo está mudando,
Sem querer, se perdendo
O céu está escurecendo
Até começa a chorar
E a chuva cairá
Sobre o mundo pequeno
E a chuva cairá
Sobre o mundo pequeno
("A chuva que cai" - Mogol/Lind/Antonio Marcos)
Contracapa de Vanusa '69 por Tebaldo
* Com a inestimável colaboração de Arturo Guerra-Peixe de Aguiar
* Com a inestimável colaboração de Arturo Guerra-Peixe de Aguiar
Thursday, January 19, 2006
"Baila comigo"
Lançada em 2005, a coletânea “Diferente” tem como objetivo maior apresentar-nos o lado “respeitável” da carreira de Vanusa.
Seguindo o receituário que ainda é prescrito, para ser considerada uma artista de primeira linha da dita música popular brasileira, é preciso ter estofo. Deve-se gravar composições renomadas, de autores considerados “sérios” pelo “establishment” cultural: Caetano Veloso, Belchior, João Bosco, Milton Nascimento, Zé Ramalho...
“Diferente” cumpre seu propósito. Vanusa pode (muito bem, por sinal) interpretar as canções fossilizadas pelos “medalhões”, mas, como artista, sua singularidade se dá justamente quando ultrapassa as barreiras e se sobrepõe aos cânones da “MPB”.
“Vanusa” (1969/RCA-Sony&BMG) mostra que não só Gal Costa poderia fazer um disco psicodélico no final dos anos sessenta. Com Rogério Duprat e a intelectuália contando a favor, é remota a possibilidade de que Gal tenha ficado estafada.
A começar pela capa (e por onde anda Tebaldo?), antecessora da moda “physical” de Olivia Newton-John e d’As Frenéticas de “Dancin’ days”. A foto, tremida, dá a impressão de movimento, embaralhando as cores, forjando uma imagem psicodélica, “viajandona”.
O repertório inclui “Que você está fazendo neste lugar tão frio”, da dupla iniciante no “samba-rock”, Tom Gomes e Luiz Wagner, “O que é meu é teu”, de Silvio Brito, “Hei sol”, do cearense Dom, que viria a compor com Ravel a parceria mais “maldita” dos anos de chumbo, um “cover” de “Sunny”, uma composição autoral, “Eu sei viver sozinha”, “Caminhemos” (um pouco deslocada aqui...), de Herivelto Martins, e uma versão para “Hey Joe”, de Jimmy Hendrix feita pelo Demétrius. Todas com arranjos do maestro Portinho.
A faixa mais atraente, sobretudo pela sua contemporaneidade, com ecos e gritinhos à la Yoko Ono, é “Atômico platônico”, de Jean Garfunkel e Fernandes. Radioatividade e explosão nuclear eram expressões da ordem do dia, ao lado do “paz e amor”.
Vanusa, depois casada com o ultra-romântico Antonio Marcos, compôs e cantou outras músicas sobre o amor não-correspondido. Mas esses versos de “Atômico platônico” são simbólicos, por tudo o que representam: “Meu coração já se desintegrou nessa cruel e triste guerra de amor”.
Lançada em 2005, a coletânea “Diferente” tem como objetivo maior apresentar-nos o lado “respeitável” da carreira de Vanusa.
Seguindo o receituário que ainda é prescrito, para ser considerada uma artista de primeira linha da dita música popular brasileira, é preciso ter estofo. Deve-se gravar composições renomadas, de autores considerados “sérios” pelo “establishment” cultural: Caetano Veloso, Belchior, João Bosco, Milton Nascimento, Zé Ramalho...
“Diferente” cumpre seu propósito. Vanusa pode (muito bem, por sinal) interpretar as canções fossilizadas pelos “medalhões”, mas, como artista, sua singularidade se dá justamente quando ultrapassa as barreiras e se sobrepõe aos cânones da “MPB”.
“Vanusa” (1969/RCA-Sony&BMG) mostra que não só Gal Costa poderia fazer um disco psicodélico no final dos anos sessenta. Com Rogério Duprat e a intelectuália contando a favor, é remota a possibilidade de que Gal tenha ficado estafada.
A começar pela capa (e por onde anda Tebaldo?), antecessora da moda “physical” de Olivia Newton-John e d’As Frenéticas de “Dancin’ days”. A foto, tremida, dá a impressão de movimento, embaralhando as cores, forjando uma imagem psicodélica, “viajandona”.
O repertório inclui “Que você está fazendo neste lugar tão frio”, da dupla iniciante no “samba-rock”, Tom Gomes e Luiz Wagner, “O que é meu é teu”, de Silvio Brito, “Hei sol”, do cearense Dom, que viria a compor com Ravel a parceria mais “maldita” dos anos de chumbo, um “cover” de “Sunny”, uma composição autoral, “Eu sei viver sozinha”, “Caminhemos” (um pouco deslocada aqui...), de Herivelto Martins, e uma versão para “Hey Joe”, de Jimmy Hendrix feita pelo Demétrius. Todas com arranjos do maestro Portinho.
A faixa mais atraente, sobretudo pela sua contemporaneidade, com ecos e gritinhos à la Yoko Ono, é “Atômico platônico”, de Jean Garfunkel e Fernandes. Radioatividade e explosão nuclear eram expressões da ordem do dia, ao lado do “paz e amor”.
Vanusa, depois casada com o ultra-romântico Antonio Marcos, compôs e cantou outras músicas sobre o amor não-correspondido. Mas esses versos de “Atômico platônico” são simbólicos, por tudo o que representam: “Meu coração já se desintegrou nessa cruel e triste guerra de amor”.
Monday, December 26, 2005
Thursday, December 22, 2005
E pausa para uma canção-poema
É, como eu falei, não ia durar
Eu bem que avisei, pois é, vai desmoronar
Hoje ou amanhã um vai se curvar
E, graças a deus, não vai ser eu quem vai mudar
Você perdeu
E, sabendo com quem eu lidei, não vou me prejudicar
Nem sofrer, nem chorar, nem vou voltar atrás
Estou no meu lugar, não há razão pra se ter paz
Com quem só quis rasgar o meu cartaz
E agora pra mim você não é nada mais
E qualquer um pode se enganar
Você foi comum, pois é, você foi vulgar
E o que é que eu fui fazer quando dispus te acompanhar
Porém pra mim você morreu
Você foi castigo que deus me deu
Não saberei jamais se você mereceu perdão
Pois eu não sou capaz de esquecer uma ingratidão
E você foi uma a mais
E qualquer um pode se enganar
Você foi comum, pois é, você foi vulgar
E o que é que eu fui fazer quando dispus te acompanhar
Porém pra mim você morreu
Você foi castigo que deus me deu
E como sempre se faz, aquele abraço, adeus
E até nunca mais
("Última forma" - Baden Powell/Paulo César Pinheiro)
Monday, December 19, 2005
Breve Antonio Adolfo
Antonio Adolfo começou estudando piano em conservatório. Foi o pianista do musical de pinta socialista “Pobre Menina Rica”, escrito por Vinicius de Morais e musicado por Carlos Lyra, o que lhe proporcionou, ainda estudante de medicina, formar um trio de bossa-nova e samba-jazz chamado Trio 3D.
Gravou, nessa fase, dois discos na RCA: “Tema 3D”, em 1964 e “O Trio 3-D Convida”, em 1965, cujo lado b traz como convidados bam-bam–bans Eumir Deodato, João Teodoro Meirelles, Raul de Souza e Paulo Moura, dentre outros.
Tornou-se conhecido e requisitado nos meios musicais, tendo participado de shows de sucesso com Lennie Dale e Eliana Pittman, começou a fazer arranjos na gravadora Odeon e registrou, como líder, pelo selo Copacabana, o disco “Muito na Onda”, já com o Conjunto 3d, que contava com a presença suave de Beth Carvalho nos vocais. Foi ainda compositor, ao lado de Tibério Gaspar, de um dos maiores sucessos de Wilson Simonal, “Sá Marina”.
Com uma das trajetórias mais interessantes da “MPB”, Antonio Adolfo começou na bossa, passou pelo samba-jazz, escreveu canções “soul”, enveredou pela pilantragem de Carlos Imperal, formou o coletivo hippie “A Brazuca”, foi o autor do arranjo de "BR-3", com Toni Tornado, campeã em Festival, lançou um dos primeiros discos independentes do Brasil, “Feito em Casa”, de 1977 (antes, Tim Maia havia criado a sua Seroma – Sebastião Rodrigues Maia, pela qual lançou seus discos “racionais”) e passou a estudar a obra de Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga, gravando, também de forma independente, “songbooks” dos dois compositores.
Atualmente dá aulas na sua própria escola de música no Rio de Janeiro.
Monday, November 28, 2005
Thursday, October 27, 2005
Muito engenho
"Inserida no Contexto", a irmã da "culta e elegante" Eleonora, Maria Christina Mendes Caldeira, ex-mulher do ex-deputado federal Valdemar Costa Neto, na melhor tradição "se aquieta sinhá", bordava um estofo de algodão para passar as horas, enquanto assistia à acareação de folhetim promovida pela CPMI do "mensalão".
E a pergunta que não quer calar? Quem faz terapia com Mrs. Rosset?
Tuesday, October 25, 2005
Cambalacho
Folha de S. Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005, pág. E2
MÔNICA BERGAMO
MÔNICA BERGAMO
Você é culto e elegante?
Está em dúvida? Acaba de chegar às livrarias um guia de auto-ajuda para resolver esse dilema.
Até a psicanalista e socialite Eleonora Mendes Caldeira, uma das mais conhecidas anfitriãs da cidade, amiga da ex-prefeita Marta Suplicy, casada com o empresário Ivo Rosset e musa da canção "Morena dos Olhos D" Água", de Chico Buarque, diz que "sempre" se pergunta: "Afinal, o que é ser elegante?". E culta?
Pergunta complicada, resposta mais ainda. Mas os quinze autores do livro "Cultura & Elegância", organizado pelo historiador Jaime Pinsky, acharam que poderiam dar a sua contribuição para que, em capítulos como "o que você precisa ler", "o que você precisa ouvir" e "o que você precisa ver", seus leitores encontrassem um caminho para que se tornar, como diz um deles, "um ser humano mais admirável". O livro acaba de chegar às livrarias. A coluna selecionou os trechos de alguns capítulos:
OS DISCOS
O crítico André Domingues faz a lista de "dez discos brasileiros". E dá outras indicações de obras da MPB obrigatórias para "cultos" e "elegantes", aquelas que "é impossível você ainda não ter ouvido" ("Aquarela do Brasil", de Ary Barroso, "Carinhoso", de Pixinguinha, e "Copacabana", de Alberto Ribeiro e Braguinha) e as que "precisa ouvir" ("Seu Chopin, desculpe", de Johnny Alf, "Influência do Jazz", de Carlos Lyra, e "A Banca do Distinto", de Billy Blanco). O maestro Julio Medaglia apresenta o beabá do clássico e recomenda: "Comece pelo canto gregoriano". O crítico Carlos Calado indica os discos de jazz.
DICAS
1)"Não use em grandes quantidades loção, perfume, mousse ou qualquer produto que possa causar alergia a seus vizinhos num concerto. Muitos espirros e tosses seriam evitados se as pessoas pensassem nos outros ao se arrumar para o evento", diz Medaglia;
2)"Não bata os pés, não tamborile os dedos, não fique mudando a cabeça de posição o tempo todo;
3)"Nunca aplauda entre os movimentos. Se não souber quando aplaudir, espere que os outros o façam antes".
DEZ DISCOS BRASILEIROS
"Bebadosamba" (Paulinho da Viola)
"Cartola" (1976)
"Caymmi: Amor e Mar"
"Clube da Esquina" (Milton e Lô Borges)
"Construção" (Chico Buarque)
"Elis & Tom"
"O Grande Circo Místico" (Chico Buarque e Edu Lobo)
"O Mito (The Legendary)" (João Gilberto)
"Rosa de Ouro" (Clementina de Jesus, Aracy Côrtes e Conjunto Rosa de Ouro)
"Tropicália ou Panis et Circensis" (Caetano, Gil, Tom Zé, Nara Leão e Os Mutantes)
DEZ DISCOS DE JAZZ
"Bird and Diz" (Charlie Parker & Dizzy Gillespie)
"Birth of the Cool" e "King of Blue" (Miles Davis)
"Black Codes" (Wynton Marsalis)
"Ellington at Newport" (Duke Ellington)
"Free Jazz" (Ornette Coleman)
"Hot Fives, vol.1" (Louis Armstrong)
"I Sing the Body Electric" (Weather Report)
"Mingus Ah Um" (Charles Mingus)
"Presents the Bandwagon" (Jason Moran).
CLÁSSICOS
"A Sagração da Primavera" (Igor Stravinsky)
"Gymnopedies" (Erik Satie)
"Till Eulenspiegel" (Richard Strauss)
"Noturnos" (Debussy)
"Carmina Burana" (Carl Orff)
TEATRO
"Vá a teatro, mas não me convide". A frase, diz Alberto Guzik, que é ator, diretor, dramaturgo, crítico teatral e repórter, "nunca deve ser dita por um cidadão inteligente", pois fará "interlocutores cultos e elegantes erguerem sobrancelhas de susto." No livro, ele fala do teatro, da Grécia aos dias de hoje, e recomenda:
DICAS
1) As peças "Hamlet", "Édipo", "Prometeu", "Dom Juan" e "Vestido de Noiva" "fazem parte da educação obrigatória de um indivíduo minimamente civilizado";
2) "É bom avisar: não basta ver musicais nas Broadways da vida. É preciso ir além";
3) "Quem impressionará mais em uma conversa sobre música?", pergunta Guzik. "Aquele que só fala de trance e tecno ou o sujeito que discorre com facilidade sobre o canto coral grego, as antífonas medievais, os edifícios harmônicos de Bach, os dodecafônicos, o pop?" Com o teatro, diz, ocorre o mesmo.
A ETIQUETA
Coube à articulista Célia Leão escrever o capítulo com orientações de comportamento que, segundo ela, farão do leitor uma presença mais bem-vinda, um profissional que vende bem a imagem, "enfim, um ser humano mais admirável".
DICAS GERAIS
1) A expressão "muito prazer" soa falsa. Diga "como vai" ao ser apresentado a outra pessoa;
2) Expresse prazer ao conhecer famosos. Diga algo como "Prazer em conhecê-lo pessoalmente!";
3) Em lançamentos de livros ou vernissages, siga a regra dos "s": surgir, saudar, sorrir, sair;
4) "Não existe elegância que resista" a erros de português.
DICAS NO TRABALHO
1) Levante-se da cadeira quando receber a visita de um superior hierárquico;
2) Ao expressar desacordo com o chefe, "enfatize os pontos positivos que existem na opinião dele";
3) Lembre-se: espera na linha quem fez o chamado telefônico.
AS CIDADES
De acordo com o livro, "o mundo, vasto mundo, oferece mil roteiros". Mas só um, afirma Dad Squarisi, que fez o capítulo sobre "grandes destinos", é "essencial": o chamado circuito Elizabeth Arden, que inclui Nova York, Paris, Londres e Roma.
DICAS
1) Dad lista "cinco praças de Roma" para serem visitadas: Campo dei Fiori, Piazza del Campidoglio, Piazza del Popolo, Piazza di Spagna, Piazza Venezia;
2) Em Paris, além de cafés outrora freqüentados por intelectuais, Dad recomenda "explorar as bordas do Sena com suas barraquinhas e livros"; e lista cinco museus: Cluny, de arte medieval, Louvre, Picasso, Rodin, Palais de Chaillot;
3) "Cinco lugares imperdíveis em Londres", segundo ela: Abadia de Westminster, Museu Britânico, Hyde Park, Palácio de Buckingham e Piccadilly Circus;
4) A Harrod's, "loja dos ricos e famosos", diz, "simboliza a aristocracia e a perdição. Em dia pré-marcado, fecha as portas aos pobres mortais para atender à rainha";
5) Cinco lugares de Nova York: Central Park, Metropolitan Museu of Art, MoMa, Quinta Avenida e Rua 57, "o endereço da alta-costura nova-iorquina.
OS LIVROS
"Você está num bar, conversando com amigos (...) e de repente pessoas começam a falar sobre os livros que já leram. E aí você se dá conta de que é como se morasse em um outro planeta", diz o escritor Moacyr Scliar, que indicou livros de ficção. Um livro é chato de ler? "Você precisa insistir consigo mesmo, teimar, não desistir fácil da tarefa de encontrar num livro tão elogiado por tantas pessoas cultas o que pode tê-las atraído", diz o jornalista Daniel Piza, que deu dicas de livros de não-ficção.
CLÁSSICOS
Ficção:
"Ilíada" (Homero)"
As Aventuras de Tom Sawyer" (Mark Twain)"
As Ilusões Perdidas" (Balzac)"
As Viagens de Gulliver" (Jonathan Swift)
"Crime e Castigo" (Dostoiévski)
"Dom Quixote" (Miguel de Cervantes)
"Guerra e Paz" (Tolstoi)
"Madame Bovary" (Flaubert)
"Oliver Twist" (Charles Dickens)
"Os Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister" (Goethe)
Não-ficção:
"Cartas Filosóficas" (Voltaire)
"Elogio da Loucura" (Erasmo de Rotterdam)
"Ensaios" (Montaigne)
"O Anticristo" (Nietzsche)
"O Príncipe" (Maquiavel)
FICÇÃO BRASILEIRA
"A Hora da Estrela" (Clarice Lispector)
"Dom Casmurro" (Machado de Assis)
"Grande Sertão: Veredas" (Guimarães Rosa)
"Macunaíma" (Mário de Andrade)
"Mar Morto" (Jorge Amado)
BIOGRAFIAS
"Churchill" (Roy Jenkins)
"Goya" (Robert Hughes)
"Beethoven" (Lewis Lockwood)
"Einstein" (Abraham Pais)
"Newton" (James Gleick)
OS MUSEUS
Para cumprir a lista básica de museus indicada por Jaime Pinsky, é preciso quase dar a volta ao mundo. E que volta: Paris, Estocolmo, São Petersburgo, Nova York, Jerusalém e Londres.
DICAS
1) É recomendável que se comprem presentes em museus, pois isso denota "cultura e classe". "E você não quer ser culto e elegante?", pergunta Pinsky;
2) Prepare roteiro com antecedência. Tenha personalidade e, na volta, assuma que não viu tudo, mas viu bem;
3) Use roupas e calçados confortáveis. Não corra o perigo de ganhar um calo ou uma bolha;
4) Atrações "imperdíveis" no Louvre: "Mona Lisa", "Vênus de Milo", "O Livro dos Mortos", "O Escriba Sentado", "Morte de uma Virgem", "A Liberdade Conduzindo o Povo", "Rendeira", "A Bela Jardineira" e "Cristo na Cruz".
FILMES
Polemizar sobre cinema "é sempre um tempero capaz de animar a mais monótona das reuniões sociaisociais", acredita o crítico Luciano Ramos, que indicou filmes nacionais e internacionais que podem ajudar o leitor a não boiar nas discussões. Abaixo, uma delas, a dos "melhores filmes de todos os tempos":
LISTA BÁSICA
"Cidadão Kane" (Orson Welles)
"Um Corpo que Cai" (Hitchcock)
"A Regra do Jogo" (Jean Renoir)
"O Poderoso Chefão" (Coppola)
"Uma História em Tóquio" (Yasujiro Ozu)
"2001: Uma Odisséia no Espaço" (Stanley Kubrick)
"O Encouraçado Potemkin" (Eisenstein)
"Aurora" (Friedrich Murnau)
"Oito e meio" (Fellini)
"Cantando na Chuva"
*
Folha de S. Paulo, terça-feira, 25 de outubro de 2005, pág. A2
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Como se dar bem...
Acaba de ser lançado um livro muito sintomático e sugestivo. Chama-se "Cultura & Elegância". Seu subtítulo é auto-explicativo: "o que se deve fazer e o que é preciso conhecer para ser uma pessoa culta e elegante". Trata-se de obra coletiva, organizada pelo historiador Jaime Pinsky -livre-docente pela USP e dono da editora responsável (a Contexto). Quem a idealizou foi a socialite e psicanalista Eleonora Mendes Caldeira, que assina as três páginas da apresentação.
"A proposta central do livro", nos explica madame, "é a de que uma pessoa elegante interessa-se necessariamente por cultura. (...) Cultura entendida como produção humana para deleite próprio. (...) Elegância, portanto, não é só saber vestir o corpo com a roupa certa e comportar-se adequadamente. É isso também, mas é mais. É alimentar a alma de maneira harmoniosa".
Estamos diante de algo como o "Grito dos Incluídos". Na pauta de reivindicações cada vez mais ampla do individualismo possessivo, a cultura aparece como um estilo de vida que se consome e ostenta. Ou seja: se é verdade que a cultura está mais do que nunca na moda, então é preciso emprestar-lhe um sentido que nos sirva; livrá-la da sua irritante inutilidade (coisa de derrotados!) e desligá-la de seus elos coletivos e/ou sociais (velharia de esquerdistas!). Cultura, sim, mas para "deleite próprio". "Personal culture" -bem entendidos.
A epígrafe desse manual da novíssima etiqueta nos diz: "Elegância é a arte de não se fazer notar aliada ao cuidado sutil de se deixar distinguir". Assina-a Paul Valéry. Com a palavra o jornalista Daniel Piza: "Ter lido Nietzsche na adolescência, por exemplo, me fez muito bem" (pág. 38); "Outra leitura de adolescência, quase no extremo oposto, foi a de Bertrand Russsel" (pág. 39); "Foi mais ou menos na mesma época que descobri o prazer de ler ensaios, e isso ocorreu com o pai de todos os ensaístas: Michel de Montaigne" (pág. 39); "Efeito semelhante me causou Voltaire" (pág. 40); "Também gosto de ler sobre física" (pág. 42). Talvez por modéstia, para não se fazer notar, o autor deixa de mencionar que o livro com frases de Paulo Francis, que ele também indica ("Waaal - O Dicionário da Corte"), foi organizado por... ele mesmo. Mas não se trata de auto-ajuda?
Jaime Pinsky não fica atrás. Escrevendo sobre museus, nos recomenda: "Programe-se para ver as obras de referência (afinal, todo mundo vai perguntar se você as viu, quando voltar)" (pág. 192). Numa companhia dessa, a consultora de comportamento Célia Leão está em casa: "Vale também para os vernissages a regra do "s': surgir, saudar, sorrir e sair" (pág. 210).
Há, entre os 15 textos que compõem o livro, alguns não-risíveis. Ficam, no entanto, comprometidos de antemão pela monstruosidade do conjunto, ele próprio concebido para ser sério e sofisticado, o que só faz acentuar a piada involuntária em que resulta. Guardadas as proporções, Moacyr Scliar protagoniza o seu "momento Fernando Sabino" quando este escreveu "Zélia -uma Paixão".
Serão essas as tábuas de salvação dos intelectuais: vender-se à estupidez do mercado ou render-se à estupidez dos governantes? Reduzida a ingrediente do banquete da auto-ajuda e do consumo, a cultura transforma-se em veículo do colapso do pensamento ao mesmo tempo em que dá sobrevida estéril àqueles que deveriam pensá-la de forma crítica. "Cultura & Elegância" serve como epitáfio ao túmulo onde jazem juntas as ciências humanas, a universidade pública e a esquerda. Poderia ser incluído na seção de humor ao lado do mais recente livro do Casseta & Planeta.
Fernando de Barros e Silva é editor de Brasil. Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Roberto Mangabeira Unger, que escreve às terças-feiras nesta coluna.
Thursday, October 20, 2005
O homem "Som Livre"
Depois de saber que, para poder assistir ao documentário “Descobrindo Waltel” (Rede SescSenac, 18/10/05, 15h30min), dirigido por Alessandro Gamo, teria de pagar R$ 349,00 (trezentos e quarenta e nove reais) pelo empréstimo, em comodato, do aparelho decodificador do sinal da TV a cabo, “meu mundo caiu”.
Além da módica quantia, haveria ainda um acréscimo no valor da mensalidade, por causa da “mudança de tecnologia” (do analógico para o digital), disse-me a atendente telefônica da operadora de TV por assinatura. Talvez essa alteração seja atraente para quem tem aqueles monitores de tela plana, plasma, lcd e o escambau, em formato de tela de cinema (o tal 16x9 polegadas), que custam vários milhares de reais.
Para assistir ao curta-metragem num televisor do final dos anos 1.980 não haveria porquê. Poderia ser até em VHS.
*
Não bastasse o filme sobre o músico Waltel Branco (atenção: não se trata do “ou não?” experimentalista Walter Franco, já agraciado anos atrás com alguns minutos de filmagem), pré-estreiou “Viva-volta”, curta-metragem documentário dirigido por Heloisa Passos, sobre o trombonista brasileiro Raul de Souza, o Raulzinho do Trombone, no dia 17/10/05, às 21h00, no MIS (Museu da Imagem e do Som) de São Paulo. Raulzinho tem a favor de si, no momento, o lançamento em DVD do filme “Saravah” (Biscoito Fino/2.005), dirigido por Pierre Barouh. Aficcionado por bossa-nova e por música brasileira desde que participou, como ator e cantor, da versão de Francis Lai para o “Samba da bênção”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, que fez parte da trilha do filme “Um homem e uma mulher” (1.966), de Claude Lelouch, Barouh finalmente conseguiu ter seu filme lançado no país em que o realizou, nos fins da década de 1.960. Raulzinho aparece tocando numa cena que registra o ensaio de um show que Maria Bethânia iria estrelar logo mais.
Salta aos olhos uma certa “modinha” em reascender, através de documentários, “work-shops”, “shows-homenagem”, a carreira destes e de outros artistas responsáveis por emoldurar grande parte das canções da música brasileira de meados dos anos 1.960 até 1.975. Tenta-se vir à tona, como que faltasse reconhecimento em vida, e no próprio país, para poder completar a saga musical que cada um galgou, mesclando-se hierarquicamente nas gravações alheias, mas sem perder o "élan" próprio.
A lista é interminável: Carlos Pipper, Portinho, Lyrio Panicalli, Eumir Deodato, Astor, Nelsinho, Luiz Eça, Cipó, J.T. Meirelles, Celso Murilo, Antonio Adolfo, César Camargo Mariano, Peruzzi, Waltel Branco, Élcio Alvarez, Pachequinho, Carlos Monteiro de Souza, Lyndolpho Gaya, Carioca, Leo Peracchi, Edson Frederico, Chiquinho de Moraes, Erlon Chaves, Mário Castro-Neves, Walter Wanderley, Osmar Milito, Geraldo Vespar, Sérgio Carvalho, Luiz Carlos Vinhas e tantos outros mais...
O paranaense Waltel Branco, em 1.966 idealizou um projeto, que se tornou disco, chamado “Mancini também é samba”, cujo intuito era transpor as composições temáticas de Henry Mancini para ritmos mais cadenciados, para dançar. Ou seja, a idéia era tocar as obras de Mancini em ritmo de samba, mas não aquele samba cru, bruto, de “teleco-teco”, já que se vivia o auge do samba-jazz, com seu balanço de irresistível suingue.
Para auxiliá-lo na pequena, mas atuante gravadora pernambucana Mocambo (Fábrica de Discos Rozenblit), Waltel arregimentou os melhores instrumentistas disponíveis: Salvador Filho (hoje Dom Salvador) no piano, Sérgio Barroso no contra-baixo, Victor Manga na bateria, Pinduca no vibrafone, Aurino Ferreira no sax-barítono, Meirelles no sax-alto e tenor, Edson Maciel e Astor no trombone, o efêmero Pedro Paulo no trumpete, Neco no violão, Rubens Bassini no pandeiro e Jorginho Arena na tumbadora. Sem contar as participações especiais de Julinho Barbosa, Mozart, Hamilton e Maurílio (do elenco da então RCA) no trumpete e K-ximbinho e Cipó no sax-alto e tenor, respectivamente, sumidades em seus instrumentos.
O resultado não poderia ser outro que não a estupefação. Com o repertório que incluía alguns “standards”, como “Moon River”, “Peter Gunn”, “Mr. Lucky” e “The Pink Phanter Theme”, transfigurados em puro balanço samba-jazz e outras composições já demais conhecidas (“Meglio Stasera”, "My Manne Shelley” e “Lightly”), o disco, que, pela capa e pelo ano de lançamento, poderia soar como uma galhofa, é coisa muito séria, dos tempos em que se fazia arte sem pensar em ser moderno, porque "avant-garde", como modernidade somada à ousadia, era aquela.
Monday, October 17, 2005
Inscrito
Leny Andrade não é para qualquer hora. Sua voz rouca, seus “scat singings”, seu ar espalhafatoso e sua postura de cantora norte-americana de jazz, que, como Michael Jackson, consente a voz, mas cala a cor, atrapalha sua audição.
Depuradas, contudo, as questões não-vocais, Leny, em “Registro” (Columbia/Sony-BMG, 1.979), gravou um dos melhores discos de toda a sua carreira, dada a moderação com que usou seus atributos de cantora tecnicista.
Não se pode afirmar com certeza, até porque a reedição do disco em CD não informa sequer quem foi originalmente o produtor da gravação, mas pela seleção musical e pelo “estilo” do disco, parece ter sido Durval Ferreira, o “Gato”, da fonográfica CID (Companhia Industrial de Discos, vide “El CID”), o responsável pela produção do LP.
Além de Durval Ferreira, provável violonista do disco, devem ter participado da gravação Robertinho Silva na bateria, Bebeto Castilhos (tio do “hermano” Marcelo Camelo, mas, antes de tudo, integrante do Tamba Trio) na flauta e João Donato no piano e nos arranjos. Durval Ferreira pelo “balanço zona norte” de seu violão. Robertinho Silva pela sua peculiar batida seca, estática. Bebeto por causa de sua flauta lamentadora, de “Salgueiro chorão”, especialmente em “Meu canário vizinho azul”, de Toninho Horta. E João Donato... Bom, João Donato...
Apesar da produção prolífica dos últimos anos, em que a qualidade nem sempre está presente (aguarda-se o lançamento da sua sinfonia “amazônica”, inspirada pelo clássico Rachmaninov), João Donato criou obras magistrais, de estilo único, “donatiano”, inconfundível, o que faz crer tenha sido o pianista e o arranjador de pelo menos algumas das faixas de “Registro”.
O repertório do disco de Leny traz nomes já então consagrados, como Roberto Menescal (“Vai de vez, em parceria com Lula Freire,%
Depuradas, contudo, as questões não-vocais, Leny, em “Registro” (Columbia/Sony-BMG, 1.979), gravou um dos melhores discos de toda a sua carreira, dada a moderação com que usou seus atributos de cantora tecnicista.
Não se pode afirmar com certeza, até porque a reedição do disco em CD não informa sequer quem foi originalmente o produtor da gravação, mas pela seleção musical e pelo “estilo” do disco, parece ter sido Durval Ferreira, o “Gato”, da fonográfica CID (Companhia Industrial de Discos, vide “El CID”), o responsável pela produção do LP.
Além de Durval Ferreira, provável violonista do disco, devem ter participado da gravação Robertinho Silva na bateria, Bebeto Castilhos (tio do “hermano” Marcelo Camelo, mas, antes de tudo, integrante do Tamba Trio) na flauta e João Donato no piano e nos arranjos. Durval Ferreira pelo “balanço zona norte” de seu violão. Robertinho Silva pela sua peculiar batida seca, estática. Bebeto por causa de sua flauta lamentadora, de “Salgueiro chorão”, especialmente em “Meu canário vizinho azul”, de Toninho Horta. E João Donato... Bom, João Donato...
Apesar da produção prolífica dos últimos anos, em que a qualidade nem sempre está presente (aguarda-se o lançamento da sua sinfonia “amazônica”, inspirada pelo clássico Rachmaninov), João Donato criou obras magistrais, de estilo único, “donatiano”, inconfundível, o que faz crer tenha sido o pianista e o arranjador de pelo menos algumas das faixas de “Registro”.
O repertório do disco de Leny traz nomes já então consagrados, como Roberto Menescal (“Vai de vez, em parceria com Lula Freire,%